De médico e de louco, todos nós temos um pouco. Enlouquecer, como vê o senso comum, é uma forma de fugir, ir para outro planeta, criar novas identidades, “sartar fora”, cantar pra subir, dar bom dia a cachorro. Muito se brinca. Seria cômico se não fosse sério. Em “Nefelibato”, monólogo de Regiana Antonini com Luiz Machado, que celebra 20 anos de carreira, não existe nem o elogio à loucura e muito menos a ironia com os loucos — retrata, com muita poesia, o que acontece com as pessoas quando perdem o chão.
Com direção de Fernando Philbert e supervisão de Amir Haddad, o monólogo é um diálogo com os próprios devaneios, sonhos, percalços, desesperos, angústias e alegrias do personagem Anderson, inspirado em uma pessoa real, empresário bem-sucedido, que perde tudo com o Plano Collor. Morre sua avó, sua principal âncora; seus negócios acabam por falir e perde a mulher amada. É no caminho da evasão, que Anderson resiste. E vive.
“Quis tratar do instinto de sobrevivência que o ser humano tem e que ele esquece que tem”, salienta Fernando Philbert, diretor, antes de chamar a atenção para um certo grau de consciência que o personagem tem de sua condição: “Para não se matar ou matar alguém, ele vai para a rua. Viver na rua é o caminho que ele encontrou para continuar vivo”. Anderson é alguém que vive situações-limite – um equilibrista no fio tênue entre lucidez e loucura, vida e poesia.”
Uma casa feita de lixo, roupa em andrajos, a típica barba podem parecer que se trata de um louco/comum/mendigo com que nos deparamos diariamente e nos são invisíveis. No entanto, Luiz Machado encarna com força e maestria um homem visceral. Um louco? Quem sabe? Ou alguém que não se submete? Alguém que escolhe andar no mundo da lua, pois a realidade pode ser mortal?
Serviço:
12, 19 e 26 de setembro, às 21h.
www.iclubbe.com/nefelibato