Pouca gente sabe que, desde 2018, passei a usar amarelo em setembro, a acreditar no poder dessa cor primária. Passei a entender a importância de falarmos sobre o suicídio. Em 2017, vivi um momento muito difícil; não estava sabendo lidar com os meus problemas. Ficava sem ar, não sabia lidar com questões, fossem as mais simples ou as mais complexas. Vi a minha vida virada de cabeça para baixo. Era noite, umas 10 e meia, estava sozinho em casa, na varanda. Ventava um pouco. Em uma situação que parecia um transe, eu me vi, jogando-me da varanda.Tive vontade de acabar com aquele sofrimento insuportável, com aquela dor.
Mas, sei lá, por que cargas d’água do destino, meu telefone tocou (nunca deixava o telefone com som); o barulho me irritava. Porém, naquela noite, o som do telefone estava bem alto. Olhei para o lado e atendi. Era o meu anjo da guarda, a jornalista Marcia Disitzer — minha amiga, meu porto seguro de uma época. Comecei a chorar com ela. Não disse o que quase tinha feito. Sabia que ela tinha passado por histórias difíceis com essa temática, tendo perdido o pai e a mãe nessas circunstâncias, e preferi não confidenciar. Ela me salvou com um telefonema; aliás, com alguns. Márcia me ligava e me atendia de madrugada.
Quando tinha um desespero, ligava pra ela, mas, a partir daquele momento, vi a importância de falarmos de suicídio. Fui grupo de risco. Fazia terapia, porém camuflava. É muito fácil camuflar, fingir que está bem, quando, na realidade, não se está nada bem. Não falamos de determinados assuntos para não preocuparmos amigos e família, mas hoje sei da importância em se falar. Histórias como a minha estão por aí. Pessoas não sabem lidar com seus problemas. Perdem empregos, enfrentam crise em relacionamentos, enfrentam crises que aparentemente são insolúveis; no entanto, elas têm solução, sim.
Passei, desde 2017, a me dedicar à Federação de Ginástica. Comecei a fazer um trabalho voluntário que me fez sentir útil pra minha gente. Passei a sentir um brilho na minha alma novamente. Em 2018, conheci o meu amor, o Diogo. Vi o colorido e as surpresas que a vida nos proporciona. Momentos difíceis? Todos temos! Uns mais difíceis, outros menos. Só posso dizer que o Bruno que está aqui escrevendo este texto está bem, está feliz e com o entendimento de muitas questões que não tinha antes. Esse Bruno, porém, precisa dizer umas palavras: “Obrigado, Márcia! Obrigado, amiga do meu coração, por ter sido o meu anjo da guarda”.
Bruno Chateaubriand é jornalista, presidente da Federação de Ginástica do Rio e colunista da “Veja Rio”.