Como dentista, estou acostumada a lidar com doenças transmissíveis, principalmente as respiratórias, que nos contaminam pelas gotículas que ficam suspensas no ar, e que chamamos de aerossóis. Quando começou a pandemia, apesar de trabalhar muito protegida e de também proteger os clientes de infecções cruzadas, deu um pânico geral porque pouco se sabia da Covid — do que se tinha certeza é que ela era altamente transmissível justamente por essas gotículas, que são o dia a dia do consultório.
Foi um desânimo geral; não só havia o medo como também, para poder trabalhar, tínhamos de seguir várias regras e imposições da Anvisa e do nosso Conselho de Odontologia. Porém, logo depois do susto e do impacto, juntei minha equipe e treinamos para a nova rotina de trabalho. Trabalho há mais de 30 anos em uma especialidade que lida com dor, infecção, inflamação, abscessos…. enfim, muitas emergências que não puderam esperar a pandemia passar, e tive de trabalhar na linha de frente, claro, com todos os cuidados de biossegurança que a profissão e o respeito ao próximo exigem.
Não foi nada fácil; a cada final de dia, batia um cansaço extremo, uma vontade de parar tudo e só voltar quando a situação estivesse sob controle. No entanto, nós continuamos os atendimentos, e pude observar que, devido ao estresse, às incertezas, ao medo e à insegurança, cresceu no consultório o número de dentes trincados ou quebrados, por apertarem excessivamente uma arcada contra a outra, principalmente enquanto dormiam. Essas trincas ou fraturas levavam a uma extrema dor ou a um abscesso, que faziam com que eles procurassem rapidamente por um atendimento de emergência.
Essas situações de apertamento e bruxismo foram uma condição bastante comum nesse período de pandemia. Toda semana, recebia casos assim, e, muitas vezes, tinha de fazer até uma extração. Muitas pessoas, quando estão com problemas pessoais mais profundos, jogam essa ansiedade na boca e se apertam tanto, que passam a ter dores musculares, dores na articulação das têmporas (ATM), dores na cervical, dores de cabeça, desconforto na mastigação, e perdem qualidade de vida.
O estresse e a má oclusão são os fatores que mais desencadeiam o bruxismo. Como na pandemia houve um grande aumento de clientes com esse quadro, criamos um protocolo básico para ajudá-los: indicamos inicialmente o uso de placas oclusais miorrelaxantes para que a pessoa, ao dormir, faça o apertamento na placa, e não nos seus dentes. Outro passo importante é diminuir a tensão psicológica — aí aconselhamos a prática de esportes e exercícios de relaxamento.
Já os distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade, devem ser aliviados e medicados (psiquiatria e psicoterapia). Todo esse conjunto de medidas promove um certo alívio, mas esse paciente tem de ser acompanhado porque o tratamento é contínuo e necessita de ajustes. Apesar das dificuldades impostas pela pandemia e pelo isolamento, como promotores de saúde, pudemos atender essas pessoas no auge da crise. Agora, gradualmente, estão de volta ao consultório.
Teresa Chacur de Miranda tem consultório em Ipanema. Foi professora-adjunta no Fundão, especialista em Implantodogia, mestre e doutora em Endodontia pela UFRJ. É nome considerado em sua área.