Houve um tempo em que apenas as pessoas célebres podiam ser celebridades. Com a estreia da revista “Caras”, o advento da internet e a invenção dos reality shows, isso mudou.
Ser célebre continua privilégio de pouquíssima gente; já o status de celebridade está ao alcance de quase todo mundo — principalmente se levarmos em conta a categoria das subcelebridades, que são as celebridades desconhecidas da maioria das pessoas.
Célebre é quem “se distingue pelo mérito, por atributos notáveis; ilustre”. Já celebridade é alguém que atrai atenção da mídia — pela riqueza, excentricidade, apelo sexual, pendor para armar um barraco. De preferência tudo isso junto, mas a combinação de dois itens é suficiente. Dispensa mérito, notabilidade e ilustração. Aliás, isso costuma até atrapalhar.
“Celebridade” é o que os do grupo de risco chamavam de “famoso”. Só que mais efêmero, ou sob um holofote mais potente.
Ser famoso já não queria dizer necessariamente algo bom — que o digam as pessoas de má fama. Porque fama é isso: rumor, reputação. Famoso era, originalmente, alguém de quem se falava muito. Fosse bem ou mal. Depois é que se tornou sinônimo de pessoa fora do comum, excepcional.
Um cientista pode ser famoso, sem ser, necessariamente, uma celebridade. Já toda celebridade é famosa (ou infame, conforme o caso). A diferença crucial é que a pessoa é famosa ou não é: não se tem notícia de um subfamoso. Mas como saber se alguém é celebridade ou não? Pelas manchetes de jornais e saites de fofoca.
Se a notícia for “Apresentadora atropela ciclista” ou “Cantor é atropelado na ciclovia”, esqueça: nem a apresentadora nem o cantor são celebridades. Se fossem, a mídia (seja ela qual for) jamais usaria “apresentadora” e “cantor”, e, sim, o nome deles.
Ou você acha que se a Fátima Bernardes atropelasse o Zeca Pagodinho, a manchete seria “Apresentadora atropela cantor”? Se colocou “apresentadora”, é porque é a do telejornal local de uma afiliada do interior; se usou “cantor” é porque é a segunda voz de uma dupla sertaneja que ainda não tem nem ônibus próprio para as turnês. Subcelebridades, e olhe lá.
Celebridade, pra valer, é quando o nome conta mais do qualquer outra coisa. E supercelebridade quando esse nome se torna referência, mesmo sem ter nada a ver com a notícia. “Namorado da mãe de Neymar faz isso…”, “Irmã de Neymar faz aquilo…”, “Cachorro da mesma raça do pet de Neymar morde idoso”.
Esse é o extremo oposto da celebridade, da subcelebridade e da fama: ser identificado pela idade. “Jovem cai de roda gigante”, “Criança engole bala Soft “, “Idosa chega atrasada no Enem” — nenhum dos três, pode ter certeza, era conhecido fora do bairro.
Melhor que a fama era o prestígio. Maior que a celebridade, o reconhecimento. Mas isso foi antes da “Caras”, da internet, das Kardashians e do BBB. Vocês ainda nem eram nascidos.