Sobrevoando algumas poucas áreas, durante esta semana, a convite da TV Globo, reforço ainda mais minha convicção de que estamos ladeira abaixo e acelerando em direção ao abismo, na cidade do Rio de Janeiro. Há uma clara metástase no tecido urbano e ambiental da cidade, onde, diferentemente de buscar uma ou mais soluções para o crescimento urbano desordenado, simplesmente se opta pelo caminho mais simples, mais vantajoso politicamente e economicamente, isto é, institucionalizar-se a “zona”.
Loteamentos morro acima e baixadas abaixo, áreas ambientalmente vulneráveis a inundações e desabamentos são desmatadas, aterradas, expondo ainda mais sua vulnerabilidade e a vida de quem se permite arriscar o que tem.
Faço as contas e estabeleço um limite comparativo com as imagens que coleciono da barbárie ambiental pelo projeto “OlhoVerde”, nos últimos 21 anos, isto é, do período onde surfamos na crista da onda das “commodities ” ao abismo da corrupção, incompetência e demais barbaridades cometidas, em que não faltaram dezenas de bilhões de reais para todo tipo de evento megalomaníaco. Simplesmente, nada mudou e, ainda mais, como era de esperar em qualquer patologia, a situação só piorou.
Políticas de habitação permanentes, ordenação do uso do solo, universalização do saneamento básico continuam, até o momento, pautas para um futuro incerto visto que quem se beneficia da “carnificina ambiental” não irá soltar o “filet mignon” sem luta.
Escrevo estas linhas sem a menor vontade. Quase tudo está deixando de ser motivante. Deve ser depressão diante do monstro que insistimos em alimentar.
As causas da degradação, as consequências de toda essa baderna, simplesmente se repetem nas últimas duas décadas, mudando eventualmente algumas caras, mas o cerne do problema é sempre o mesmo.
A cultura local é predatória.
A cultura local é da porteira arrombada.
A cultura local premia a omissão, a prevaricação e os acertos sombrios.
A cultura local, por meio de seus delinquentes ambientais vips, persegue, intimida os desafetos, os poucos que confrontam a barbárie.
Se fosse para levar a sério, muitos, realmente muitos, que já passaram por aqui e tantos outros que não perdem a chance de voltar estariam presos ou, no mínimo, processados pela omissão criminosa diante do que vemos 21 anos depois. Ao contrário, inúmeros são reeleitos por uma massa eleitoral ávida por mais promessas não cumpridas e favores ou mesmo por migalhas dos direitos desconhecidos.
Contudo, por aqui, não irá acontecer nada, pois, se por um lado do balcão, a maioria continua irmanada em seu objetivo de manter tudo do jeito que está — em franca decomposição —, do lado de cá do balcão, a clientela mostra-se satisfeita ou, no máximo, indignada atrás do teclado, e ponto final.
As fotos mostram claramente que teremos um triste destino junto do ambiente que nos acolhe e que insistimos em destruir.