Um artigo de Hélio Schwartsman na Folha de S. Paulo enlouqueceu o Palácio do Planalto e os defensores do presidente. Com o título de “Por que quero que Bolsonaro morra” o texto sinaliza que no consequencialismo ações são valoradas pelos resultados que produzem. E que, portanto, o sacrifício de um indivíduo pode ser válido se dele advier um bem maior. O ministro da Justiça, André Mendonça, se manifestou. Quer enquadrar Schwartsman na Lei de Segurança Nacional (LSN), que configura crime o atentado à democracia, à soberania nacional, ao presidente da República.
Juristas já se apresentaram afirmando que não há delito em desejar a morte de alguém. O suposto crime cometido pelo jornalista, portanto, reside no fato de ele ter manifestado publicamente a sua hostilidade à vida de Bolsonaro. Schwartsman materializou na página de um jornal o sentimento de dezenas de milhões de brasileiros, que não suportam mais conviver com um governo negacionista diante da maior tragédia do Brasil. Mas, como a maioria não tem acesso à diretoria executiva da Folha, o jeito tem sido ansiar pela morte de “capitão” na redes sociais.
Não há um dia sequer que não testemunhemos um cidadão, engenheiro formado ou não, gritar no Facebook ou no Twitter que Bolsonaro deve morrer. O ministro da Justiça terá muito trabalho. Igualmente quando do episódio com Aroeira, autor de uma charge em que o presidente transformava a cruz vermelha de um hospital em suástica nazista. Ao pedir à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República que abrissem um inquérito para investigar o desenho, Mendonça recebeu o troco de chargistas de todo o país que, em solidariedade ao colega de profissão, reproduziram com traços próprios a crítica ao presidente. Deu ruim.
Eu nunca desejei a morte de Bolsonaro. Verdadeiramente. Nem mesmo quando tomou a facada de Adélio às vésperas da eleição presidencial. Sempre sonho em vê-lo sendo julgado, condenado e preso por todas as atrocidades que comete. Não adianta mandá-lo somente para o Tribunal de Haia, cujos efeitos práticos pouco vimos. Bolsonaro tem de passar pela sabatina da justiça brasileira, cega, cabe lembrar, quando ele se regozija das mortes de quase 70 mil pessoas, mas muito atenta quando ele se vitimiza. Bolsonaro não precisa que ninguém deseje a sua morte. Ele é um algoz de si próprio. Desde sempre.
Vagner Fernandes é jornalista.
Foto: Agência Brasil