Quando a pandemia foi declarada como ameaça à saúde dos moradores do Rio, eu tinha acabado de chegar de viagem; a situação me pegou de surpresa. Minha empresa de moda praia parou de vender do dia pra noite, e me vi, além de sozinha, sem ofício. Longe da família, que mora na Bahia, e dentro de um apartamento com espaço restrito, me deixei levar pelos noticiários que estavam tratando o problema muito mais como política do que como saúde pública.
Quando já estava há 80 dias sem sair de casa, usando do esquema de delivery para tudo, decidi ir ao supermercado, num sábado pela manhã. Já dentro da loja, há muito tempo estando desacostumada a ver muitas pessoas juntas, comecei a não me sentir bem. A primeira coisa que percebi foi o coração acelerar e, quanto mais gente passava por mim, mais acelerado ficava e ia aumentando o incômodo — eu sentia.
Aquilo foi crescendo e, de um minuto pro outro, não sabia o que poderia acontecer comigo. A visão ficou turva, e meus pés e mãos começaram a formigar e a perder força. Eu sabia que estava sugestionada devido ao excesso de informações sobre a pandemia, mas jamais pensei em sintomas físicos. Eu estava de máscara, e o ar começou a me faltar. Percebi, então, que, naquele momento, estava tendo uma síndrome do pânico; só quem já passou por isso sabe o que significa.
Para me restabelecer, liguei para minha mãe, que, aos poucos, foi me acalmando até as sensações irem embora. Precisei de remédio para conter a ansiedade. Hoje tenho sessões virtuais de terapia e meditação — melhorou muito! Sei que não sou a única a estar enfrentando privações físicas e emocionais, porém, graças à Internet, encontrei ferramentas para minimizar tudo que passei.
Hoje gravo “stories” humorados, tentando rir um pouco do que é incômodo, e busco novas formas de interagir com as pessoas. Converso com amigas e me faço presente mesmo através de mensagens. Além disso, estou escrevendo um diário aberto, sobre meu isolamento, para quem quiser ler, o que, tenho certeza, também me ajudou e está ajudando.
Aprender a respirar e criar uma rotina, mesmo quando o corpo pede para que a gente volte pra cama, foi essencial no processo. Entendo que essa pandemia não aceita polarização, muito menos descuido. Ela implora respeito. Precisamos respeitar o universo de cada um e aceitar que não temos poder sobre nossas reações de desconforto, mas podemos aprender a conviver com elas. E é assim que o pânico trazido, de alguma maneira pela Covid, está virando coisa do passado.
Sylvia Orenstein Tourinho é baiana e mora no Rio há 22 anos. É graduada em Publicidade e Propaganda e formada em Ballet Clássico e Artes Cênicas. Atuou por 13 anos, na área de marketing de incorporação e, em 2015, criou a Club by Syl, marca autoral de moda praia, com foco em vendas online. Atualmente, dedica-se à meditação e escreve crônicas sobre seu isolamento, em forma de diário aberto, no seu Instagram.