Quando entramos no isolamento social, eu acabara de me mudar. Foi, no meio de uma obra de escritório e casa novos, que tive de repensar a minha vida, organizar um novo cotidiano na companhia de caixas da mudança, um filho de 3 anos, sem poder sair de casa.
Em meio a tudo isso, ainda tinha a missão de achar um canto para organizar o home office. E, veja, não se trata só de uma mudança de ‘ares’, mas, sim, de repensar a nova forma de trabalho. Eu e meu marido (Louis Planès) abrimos a Casa Mosquito, em Copacabana, em 2010, um sonho que deu certo, um negócio extraordinário que foi pensado, desde o início, para ser um negócio. Sabíamos que vendê-lo seria uma questão de tempo, o que aconteceu em 2018. Desde então, focamos na consultora imobiliária RioException, com 90% da clientela de estrangeiros, entre 35 e 50 anos, que busca por imóveis privilegiados.
A pandemia trouxe tensão, já que, no início, os estrangeiros não poderiam entrar no Brasil por um bom tempo. Esse cenário, entretanto, reservava surpresas. Claro que alguns desses acontecimentos são bastante associados à desvalorização da moeda brasileira, o que fez com que clientes em potencial fizessem linhas de negócios promissoras no Brasil.
O euro a R$ 6,10 justifica algumas movimentações: uma espetacular cobertura tríplex no coração de Ipanema, com piscina e vista 360 graus para a orla, está à venda por R$ 6,2 milhões, ou seja, 1 milhão de euros. Para ter ideia, esse valor equivale a um apartamento de 60m2 em Paris. Nos últimos meses, fizemos duas vendas de dois imóveis acima de R$1,5 milhão para estrangeiros; somando com os outros, chegamos à soma de R$ 6 milhões. Este mês, por exemplo, vendemos uma casa de praia em Picinguaba (Ubatuba, SP) e uma casa colonial em Paraty (RJ).
O metro quadrado na Zona Sul do Rio chegou ao valor médio de R$13 mil, sendo R$19 mil em Ipanema e R$ 21 mil no Leblon. Inevitavelmente, a demanda por imóveis foi grande, com 70% de procura; os outros 30% se dividiram entre os turistas e uma parcela que aluga os imóveis enquanto não os ocupam. Cheguei a receber consultas de um casal que mora na França, em busca do seu primeiro imóvel!
Contudo, além de criar formas eficazes e lucrativas diante de um setor que parecia desmoronar, tive a necessidade de repensar minhas ações humanas. O que realmente queremos para o amanhã? O que quero deixar de legado ao meu filho? É este o planeta que desejamos?
Nesse sentido, o fato de estarmos limitados com relação ao consumo foi um passaporte para a reflexão sobre nossas reais necessidades diante do choque da implosão de um cenário muito recente de aquisições que pouco somaram à minha vida.
Nessa onda de reinvenções, o impensável se fez verdadeiro: ao oferecer os serviços de consultoria imobiliária com o pensamento ainda mais focado nas possibilidades de humanização do luxo, ou seja, com olhar de acolhimento, solidário e sem ostentações – mesmo diante dos meus clientes mais exigentes –, vejo as demandas e pedidos chegarem a um patamar mais alto do que nunca. Mesmo com grande parte das compras feitas para revenda e aluguéis por temporada, aumentou uma busca por apartamentos e casas com quintais, espaços de convivência arejados e iluminados, e o mais importante: com vista para a natureza ou que tenha muito verde ao redor. É assim que vem a ambiguidade: a reinvenção está nas reuniões à distância, em visitas virtuais e no relacionamento diário e intenso com a família e os nossos, dividindo angústias, possibilidades, anseios e perspectivas, mas, acima de tudo, sonhos.
Benjamin Cano Planès é corretor de imóveis, francês, mora no Brasil há 10 anos, fundou a consultoria imobiliária RioException, ao lado do marido e sócio Louis Planès, em 2018, depois de vender o hotel Casa Mosquito, em Copacabana.