Penso que, se a Covid está no seu roteiro e você, no roteiro da Covid, não tem saída — rsrsrs! Estou rindo agora, depois que tudo passou; antes, foram dias tenebrosos. No dia 10 de março, estive em Miami (EUA) e passei pelo evento onde estava Jair Bolsonaro (até o dia 20 de março, 22 pessoas que participaram da mesma viagem testaram positivo para o coronavírus) — e, logo depois, segui para Nova York, o epicentro da doença naquela época. Tive todo o cuidado. Usei máscara e, ainda naqueles dias, fui criticado. Assim que cheguei ao Brasil, no dia 17 de março, fiquei em quarentena, fiz o teste e deu negativo.
Há pouco mais de um mês, o martírio começou. Foram tempos de insegurança, agonia, medo e ansiedade. No início, estava bem, apenas com dor de cabeça e acompanhando minha oxigenação, sempre alta; em seguida, paladar e olfato sumiram. Fui ao Copa d’Or, a 100 metros da minha casa, e a plantonista me mandou de volta, receitando dipirona. No dia seguinte, marquei raios X do pulmão e foi constatada pneumonia, tomando 35%. Fiquei assustado e fui para o hospital. Comecei a medicação com Clavulin e Azitromincina, além de Flamucin e Vitamina C com zinco, sempre monitorado por um médico quando precisava.
E veio a primeira noite depois do diagnóstico; na TV, só mortes. Desliguei. Passou um filme na minha cabeça, lembrando momentos felizes e lugares que ainda quero conhecer, projetos e sonhos que guardei para os meus 50 anos (tenho 42). Na primeira noite, não consegui dormir; pela manhã, depois da medicação, foi o maior enjoo da minha vida. Depois descobri que ficaria por dias assim, mas tentei enxergar as coisas de maneira positiva. Minha mulher, Ana, foi maravilhosa, já que também estava com a Covid, só que com efeitos mais brandos, e ajudou em tudo: dos remédios à alimentação.
A primeira semana foi a pior, já que tive que dormir sentado porque tinha pânico de colocar o rosto no travesseiro e morrer dormindo, com falta de ar. Sou uma pessoa muito emotiva: chorava sempre com as mensagens de amigos, deixando meu nariz entupido e piorando a respiração. Saí das redes sociais e me afastei do WhatsApp. No 12º dia, quando a febre estava indo embora, transpirava tanto que trocava de camisa por até sete vezes. O vírus deixou uma sequela no meu pulmão, que só vai melhorar com exercícios respiratórios e físicos.
O paladar voltou aos poucos, mas meu olfato, ainda não. Perdi 8 kg — essa foi a maior vantagem, pena que a esse preço. Hoje sou outro homem, continuo workaholic, o que é necessário para pagar os boletos, que não pegam vírus, mas também não tiram férias. Antes da doença, estava abrindo mais de 900 CDs e disquetes para fazer uma exposição de fotografia sobre eventos cariocas desde 2001, e voltarei com tudo esta semana, para preparar o material. Tenho outro ponto de vista sobre todas as coisas, e aqueles projetos para o futuro, que falei acima, não vou esperar nada: quero começar tudo agora.
Fred Pontes é baiano, mas mora no Rio há 20 anos. Formado em Publicidade e Jornalismo pela Gama Filho (2005), sempre fotografou eventos dos mais diversos em todo o Brasil, principalmente entre Rio-São Paulo-Bahia.