Estava eu na Alemanha, fazendo um intercâmbio de dança, quando fomos surpreendidos pelo Covid-19. A princípio, não acreditava que seria algo tão avassalador; acho que a maioria pensava assim como eu. Logo no meio de março, ao visitar o site da minha empresa aérea, para averiguar como estavam as condições do meu voo de volta, vi que havia sido cancelado, sem data para remarcação. Entrei em desespero: o vírus já havia se espalhado, e fronteiras estavam fechando. Queria voltar para o Brasil e ficar com a minha família, porque já imaginava uma catástrofe e queria estar com os que amo.
Depois de várias tentativas sem sucesso, deixei pra lá o problema com a minha passagem e fui em busca de uma outra companhia aérea que ainda estivesse operando para o Rio e consegui, faltando os quatro últimos lugares, no dia 22 de março, antecipando a minha volta. No avião, pensei: preciso fazer alguma coisa para ajudar as pessoas quando chegar ao meu País. Depois de uma longa viagem, fiquei em isolamento por duas semanas, sozinha em casa, como recomendado.
Foi aí que me caiu a ficha: o Brasil havia perdido o controle. Minha mãe, que costura as minhas roupas de balé não perdeu tempo: começou a usar os retalhos das sobras de tecidos para fazer máscaras para a família toda. Disso, partiu para doações aos vizinhos, porteiros dos prédios da minha rua, entregadores… Até que surgiu a ideia de fazermos mais para doar aos moradores de rua e pessoas com dificuldade financeira. Com isso, começamos a ter que comprar o material, pois o nosso “estoque” de retalhos e elásticos acabou.
Foi assim que pensei na possibilidade de dar aulas via Zoom a R$ 15 para reverter o valor arrecadado em material para as máscaras. Então, todo sábado, tenho dado essas aulas e, assim, já confeccionamos mais de 500! Ainda é muito pouco — precisamos de mais porque são muitas pessoas. Minha mãe as confecciona sozinha, mas isso tem feito a ela um bem enorme e a mim também!
A meta é comprar mais material para doar a projetos sociais de dança, que são vários; eu sou madrinha do Balé Manguinhos, por exemplo. Crianças e adolescentes que moram em comunidades estão fazendo suas aulas diárias de ballet, assim como eu, em casa, via Zoom. É assim que venho mantendo a minha quarentena também, sonhando com a volta ao meu palco e à minha casa, o Theatro Municipal. Espero que isso possa inspirar outras pessoas a se movimentarem para uma causa que não sabemos quanto tempo vai durar, mas que um dia vai passar, vai.
Cláudia Mota é primeira bailarina do Municipal desde 2007. Pela atuação em Giselle, foi diplomada melhor bailarina da América Latina, pelo Conselho Latino-americano de Dança. Costuma dançar como convidada em companhias internacionais e tem feito intercâmbio com o Dortmund Ballet, na Alemanha.