Quando o carnaval terminou, a agenda de março e abril estava praticamente fechada. O ano prometia. A pandemia chegou e, no início, pensei: “Ah, vai ser bom tirar umas férias e ficar uns dias em casa!” Os primeiros dias foram passando — maravilhosos, diga-se. Um tempo de qualidade enorme com minha filhota de 1 ano e 4 meses. Em uma semana, todos os eventos foram cancelados, os casamentos, adiados; este ano, já havia 20 confirmados.
Minha primeira reação foi dar aquela panicada. Alguns dias (batendo cabeça) depois, mais calmo, pensei: “Leite derramado não volta pro vaso”. Respirei fundo e segui, atento e tentando antever o que aconteceria. A vida, de repente, desacelerou. Não havia pressa para publicar fotos, para organizar equipes ou responder a mensagens “pra ontem”. Que Maravilha!
Óbvio, as contas continuaram a chegar. Mas e daí? Pode ser ingênuo pensar assim, mas estamos todos na mesma travessia, e todos temos um denominador comum: chegar vivo. Então passei a fazer um exercício: focar exatamente nas próximas 24 horas. Para quem, no passado, teve crises de ansiedade bem fortes, essa solução foi melhor que qualquer remédio.
Dificil? Nem todos os dias em “prisão domiciliar” são moleza — na verdade, quase nenhum quando se tem um bebê e dois cachorros grandes num apê modesto. Mas e aí? Vai passar as próximas 24 horas zangado? “Bora fazer um risoto com esse limão aí!” Em pouco tempo, recebi convites para festas virtuais, aniversários, lançamentos de produtos e até casamentos online. Surpreendentemente, alguns foram muito legais!
Mas será esse o futuro? A tecnologia fará com que a fotografia social seja inútil? Duvido muito.
Sei que estamos loucos para nos abraçar, dançar até o chão, ir para uma loja prestigiar quem nos convida. Tenho certeza de que ninguém mais vai “dar uma passadinha” nos 200 mil eventos que acontecerão. Sei dizer que ninguém tem a menor noção de quando volta. Mas vai voltar, com mais sentido. E alguém tem clima?
Fico pensando: “Que inteligência vai surgir do que estamos vivendo?” O Rio sem evento e sem festa não é o Rio. Fotografar é a única coisa que eu vendo. Estou pensando o que vai ser da vida de um fotógrafo daqui a dois meses. Comemoraremos muito mais atentos ao que acontece, estaremos muito mais presentes (sem ficar olhando a tela do celular — que saco isso durante os eventos!). E, de tudo isso, uma certeza mais que absoluta: estarei lá para parar o tempo com minha câmera e fazer um belo retrato desse novo momento. Espero que não nos faltem motivos para comemorar!
Bruno Ryfer é fotógrafo há 10 anos, tanto de eventos sociais quanto de casamentos. Carioca, é aquele profissional com olhar que vai além das lentes. É pai da Gal e surfista de ondas pequenas.