Antes deste momento historicamente único e financeiramente crítico para muitos, a queixa mais recorrente da humanidade era a falta de tempo para estar em casa, desfrutando um “dolce far niente”.
Outro dia, escutei de uma amiga: “Não aguento mais ficar em casa, sem ter nada para fazer – um tédio, sem falar que me sinto presa, enjaulada”. Ela é carnívora 24 horas por dia, sete dias por semana, absolutamente sem consciência ambiental ou discernimento de que, sem a Natureza, não respiramos, ou seja, morremos. Isso me fez pensar em como debater o tema de modo que ela pudesse absorver algo da conversa sem que houvesse rejeição.
Eu lhe disse: “Já pensou que todos esses sentimentos pelos quais você está passando podem estar relacionados e sendo ‘alimentados’ pelos bichos que você come, já que eles sobrevivem confinados, sofrem maus-tratos, vivem, muitas vezes, em péssimas condições de higiene e comem rações de baixíssima qualidade?”. Ela gaguejou, ensaiou uma resposta e, então, desabafou: “Agora, a minha percepção está mais clara com relação ao consumo animal e como o meu corpo fica ‘estressado’ ao digerir. Realmente, não me parece que os produtos tenham o mesmo gosto, e já não percebo mais a mesma qualidade de outrora”. Finalmente, ela conseguiu perceber, sozinha, como todos estamos interligados e o quanto podemos sofrer influência do que ingerimos, o quanto pode influenciar no nosso humor e na disposição, e o quanto o sofrimento desses animais vai diretamente para o nosso prato.
Quanto ao tédio, é, nos momentos de ócio, que a sua mente permite aflorar sua criatividade. Por que não estimulá-lo e explorá-lo? Desarrumar e voltar a organizar, desapegar, doar, escrever, desenhar, meditar ao arrumar a casa, dançar e, quem sabe, até cozinhar?…
Se o seu corpo é o seu templo pessoal, a sua casa é o seu templo personalizado. Como se sentir preso no local onde você deveria sentir-se mais livre?
Andar descalço, vestir-se, despir-se, falar sozinho, orar, cantar no chuveiro, enfim, tudo que você ainda nem imaginou fazer na sua casa pode ser praticado agora.
Quantas vezes você quis ser apresentado para si próprio? Talvez nenhuma, mas garanto que não há fórmula mágica para a felicidade, e que o atalho mais efetivo é o autoconhecimento! Como chegar até ele? Para citar apenas algumas, colocar a consciência na respiração (meditação) e orar (também uma ótima prática meditativa se você for religioso).
Que grande oportunidade de se apaixonar por si mesmo! Vai desperdiçar?