Cariocas emendam praia com chope, com pôr do sol e esticam para um restaurante. Estou acostumada a atender pacientes que chegam de chinelo e areia nos pés. É fato que o sol traz a sensação de bem-estar e garante um reforço de vitamina D, principalmente para aqueles que fazem atividades ao ar livre, e o Rio é uma espécie de academia a céu aberto. É difícil toda essa exposição externa ser substituída pelo isolamento; isso mexe com o emocional.
Portanto, existe uma relação direta entre as altas temperaturas e o alto índice de desrespeito ao distanciamento social. Cariocas quebram quarentena nos dias ensolarados, quando é visível um número maior de gente nas ruas. No último feriadão, o isolamento foi 5% menor que o fim de semana anterior. O prolongamento da quarentena, somado à crise econômica, gera, cada vez mais, ansiedade e depressão, segundo um estudo da UERJ.
O levantamento sugere que o percentual de pessoas que reclamaram de sintomas de estresse, na etapa da coleta de dados (entre 20 e 25 de março), foi de 6,9% para 9,7%. Entre os casos de depressão, o salto foi de 4,2% para 8%. As mulheres são as mais atingidas, em especial as que continuam trabalhando e cuidando da casa e dos filhos. Prova disso, é que tenho recebido muitas reclamações de sintomas de doenças da pele, como psoríase, dermatite e seborreia (caspa), bem como de unhas quebradiças e, principalmente, queda de cabelo. Isso se explica porque, para que o processo de crescimento do pelo ocorra, nossas células e folículos pilosos gastam muita energia nesse processo.
É por isso que qualquer doença associada a estresse ou cirurgias pode vir seguida de queda. O organismo para de gastar tanta energia no cabelo, porque coisas importantes estão acontecendo no corpo.
Diante disso e da gravidade da situação, fiz uma espécie de manual para enfrentar a quarentena:
1 – Precisamos reforçar o sistema imunológico, comendo alimentos ricos em vitaminas C e D e zinco. O mais acertado é consumir salmão selvagem, sardinha, atum, óleo de fígado de bacalhau, fígado bovino, leites enriquecidos, ovos e folhas verdes escuras. Através da alimentação, não se corre o risco do excesso da vitamina, e beber muita água é importante!
2 – Aproveitar que as unhas não estão sendo pintadas, por causa dos salões fechados, para hidratá-las e fortalecê-las. Retire os resíduos e excessos de esmalte, mantenha-as sempre curtas e, se preciso, lixe-as para melhorar suas descamações distais.
3 – Resgatar aquelas receitas passadas de geração para geração, as máscaras caseiras com vitamina C, para fazer esfoliação no rosto com mel e aveia misturados (levando uns 15 segundos ao micro-ondas e esperando resfriar) ou mel e açúcar, lembrando de sempre lavar depois, com sabonete adequado para o tipo de pele. E aproveite para fazer uma hidratação no corpo.
4 – Exercícios físicos: existem várias opções de treinos na Internet.
5 – Hidratar as mãos com frequência, pois ajuda a não ressecá-las devido ao uso excessivo de sabonetes e álcool em gel.
6- Pegar sol através das janelas, sacadas e lajes, mas com cautela: no máximo, 15 minutos/dia, antes das 10h e após as 16h e com uso de protetor solar. Faça rodízio entre as áreas do corpo: um dia nas pernas, depois nas coxas, nos braços.
Não é definitivo. Quando esse vírus for vencido pela ciência e por todos nós, tudo ficará melhor e voltaremos a ter o espírito carioca.
Patricia Schulmann é médica, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Academia Americana de Dermatologia e voluntária no combate ao Covid-19 pela Secretaria de Saúde do Rio.