Sendo médico, recebo um número enorme de perguntas sobre a Covid-19. Percebi que existe uma necessidade muito grande não só de conscientização como também de esclarecimento, porque faltam informações confiáveis, ou porque a turbulência de desinformação aumenta a angústia das pessoas. Há mais ou menos um mês, começamos a montar uma espécie de grupo de estudo com alunos da Escola de Cirurgia e Medicina (EMC), da Universidade Federal do Estado do Rio (UNIRIO), que estão em casa sem aula e sem motivação, com tempo para se atualizarem, para criar um perfil de perguntas e respostas no Instagram (@perguntacovid). Há duas semanas, pusemos no ar; hoje, já têm quase mil seguidores e há alguns dias, disponibilizamos um número de WhatsApp (21 3556-0369) para responder a dúvidas da população, com a ideia de dar algum alento e diminuir a ansiedade.
Eu e um outros nove professores fizemos um trabalho de capacitação com 25 alunos — e dependendo da demanda, o número vai aumentar — que embarcaram na história e estão muito empolgados, envolvidos, bem organizados, bolam perguntas, fazem a arte gráfica, pesquisam os assuntos mais falados sobre o coronavírus e levam até nós. A ideia é que nenhuma resposta deixe de passar por um dos professores, mas os alunos é quem protagonizam o projeto, a ação social.
Outra preocupação da equipe foi a maneira de explicar. Queremos levar às pessoas os estudos mais novos do Ministério da Saúde, da OMS com uma linguagem mais popular, tornar mais fácil para todas as classes sociais. As pessoas assistem na TV que elas não podem usar tal produto, ela não valoriza, mas se responder diretamente para ela o que ela faz, isso faz uma diferença muito grande: ouvir alguém confiável.
Estou surpreso! Todos os dias, recebemos mais de 30 mensagens no WhatsApp, e existe toda uma organização e rodízio interno entre os alunos para que as pessoas não fiquem um dia sem resposta. O retorno tem sido maravilhoso, e é uma janela de oportunidade máxima para os alunos, que estão produzindo, estudando, se atualizando, mesmo nos fins de semana. Sim, a cloroquina estava entre as principais perguntas, mas estamos evitando postar qualquer coisa sobre o assunto até o Ministério da Saúde se posicionar, o que possivelmente faça esta semana. Infelizmente, a cloroquina saiu do contexto médico e caiu na questão política.
Júlio Tolentino é cardiologista com doutorado pela UniRio, mestrado em ciências Médicas pela UERJ, professor e criador, com 25 estudantes e nove professores, do perfil @perguntacovid (no Instagram) e no WhatsApp (21 3556-0369) para responder dúvidas da população.