Casados desde 2016, os atores Antonio Fagundes e Alexandra Martins estão acostumados a dividir tudo — da cama ao estúdio e, claro, o palco. Em época de quarentena, pouca coisa mudou, a não ser que estão ainda mais intensos em tudo. Eles se conheceram quando gravavam juntos um episódio de “Carga Pesada”, série da TV Globo, em 2007.
O último trabalho juntos, na TV, foi na novela “Bom Sucesso”, onde ela fazia e enfermeira Leila, que cuidava de Alberto, interpretado por Fagundes. No teatro, é sucesso a peça “Baixa Terapia”, que ficou em cartaz, em São Paulo, por três anos seguidos e, estrearia no Rio, em maio, mas chegou a pandemia com tudo.
Muitos casais andam refazendo rumos, digamos assim, apesar de na mesma casa, só esperando a partida do coronavírus para iniciarem uma outra vida, também. Sim, claro, longe de ser o caso deles, seguem olhando exatamente na mesma direção (repara o clima nas fotos). Atualmente, com tanta instabilidade em todas as áreas, não é pouca coisa. É ou não é? Conversamos com o casal:
Descobriram algo de si mesmos que não conheciam durante a quarentena?
Fagundes: “Não. Ouvi uma coisa outro dia que achei maravilhosa: neste isolamento, estamos vivendo como se estivéssemos dentro de uma panela de pressão, e a pressão só está sendo feita sobre o que já estava dentro da panela. Se tinha batata, não vai sair cenoura — vai sair a batata sob a pressão. Então, não descobrimos nada de novo; o que redescobrimos foi o prazer de estar juntos.”
Alexandra: “Assino embaixo; é bem por aí. O delicado que se vive nesta história toda é o momento, as mazelas, as diferenças sobressaem ainda mais e, num momento como este, a gente fica à mercê do que acontece no mundo e não tem como não se abalar, mas é o que ele falou: estamos juntos. Compartilhar este momento é gostoso para nossa relação.”
Qual a melhor e a pior parte de conviver 24 horas por dia?
Fagundes: “Como disse antes, estamos sob pressão, mas a batatinha que estava lá dentro da panela era muito boa. Como Alexandra falou na resposta anterior, a gente não deixa de sofrer com o aparecimento tão grande dessa desigualdade que o coronavírus mostrou no mundo inteiro, particularmente no Brasil, e sabendo que existem tantas pessoas obrigadas a sair de suas casas. A gente se sente bem, fazendo a nossa parte porque não estamos contribuindo para a propagação do vírus; no mais, tudo bem.”
Alexandra: “Assino embaixo.”
E a privacidade?
Fagundes: “Nós preservamos o espaço um do outro, separamos bem dentro de casa: agora é hora de ler, o outro vai lavar louça; agora é hora de assistir a filme juntos; se cada um quiser fazer algo diferente, tem o seu espaço preservado. Fazemos silêncio quando o outro quer se concentrar, conversamos quando o outro quer. Existe um entendimento que faz com que a coisa corra bem.”
Alexandra: “E é tudo muito natural. O que estamos vivendo não é muito novo porque eu e Antonio trabalhamos juntos há muito tempo, temos um convívio 24 horas, fazemos teatro, TV, cinema, produzimos juntos; então temos uma rotina muito próxima e estamos acostumados e funcionamos muito bem assim. Claro que temos nossos momentos separados, e isso acontece durante o dia. Falo que o dia está sendo curto para fazer tudo o que queremos.”
E como manter a vaidade?
Fagundes: “Sempre brinquei que eu não sou o meu tipo de homem (nessa hora, Alexandra diz “é o meu”), então nunca liguei muito para isso, mas temos conservado as coisas básicas: tomamos banho todos os dias (risos), Alexandra aprendeu a cortar o meu cabelo, a gente se mantém perfumadinho e, no mais, a roupinha básica… Até foi bom lembrar, com essa pergunta, que eu preciso botar um sapato, uma calça, até mesmo para saber se ela cabe.”
Alexandra: “Já cortei o meu cabelo duas vezes: na primeira, ficou ótimo; na segunda, deu ruim, a franja ficou torta, mas tem um lado gostoso porque, como atriz, a gente está sempre muito maquiada, então minha pele está agradecendo por dois meses, sem uma gota de produto. A vaidade está indo para o lado de se cuidar de maneira natural.”
Vocês vão sair maiores do que entraram nesta pandemia, como pessoas, como casal?
Fagundes: “De qualquer forma, estamos prestando atenção. Temos ouvido algumas pessoas falarem que vão sair melhores, maiores. Eu não sei se acredito nisso porque melhorar é um exercício constante. Tem gente que vai sair pior porque o exercício delas está caminhando numa direção errada. É um momento de prestar atenção para vermos no que gostaríamos de nos transformar se houver essa possibilidade.”
Alexandra: “A vida é feita de escolhas, e hoje temos acesso a muita informação. Um momento como este potencializa aquilo que você tem, tanto para o bom quanto para o ruim, então as coisas vêm à tona. Mas a gente pode fazer escolhas. Se você quer mudar, rever seus conceitos, este é um momento fantástico – olhar pra dentro, descobrir sua vida interior, como é que você pode contribuir e se relacionar com o outro.”
Faundes: “O olhar para o outro pode ser uma coisa interessante se quisermos mudar, para qualquer lado.”