“Incêndios”, neste momento, torna-se um verdadeiro manifesto sobre a provisoriedade das nossas trajetórias, da própria vida. Com a estrutura e atmosfera de um conto folclórico antigo, seu foco vem das perguntas que nos atormentam: “quem somos nós”?, “quais as nossas origens?”, “quem, são nossos pais?”. Com uma dupla estruturação genial, também é a história de uma heroína engenhosa, a mãe dessas crianças, sobrevivendo a uma série quase inimaginável de provações.
A direção de Aderbal Freire-Filho consegue interpretações magistrais do elenco, formado por Marieta Severo, Felipe de Carolis, Keli Freitas, Kelzy Ecard, Fabianna Mello Souza, Isaac Bernat, Júlio Machado, Márcio Vito. A peça canadense de Wajdi Mouawad foi adaptada para o cinema. Felipe de Carolis comprou-a e trouxe seus direitos para o Brasil, com produção de Maria Siman.
A história se passa em Quebec, com os fatos anteriores que acontecem em um país sem nome, que se assemelha ao Líbano, evidência de que, em uma primeira vista, pode parecer implausível. Os destinos de seus personagens são complicados e intrincados como os segredos da família de uma comédia shakespeariana ou clássica, ainda que aqui a sombra do drama e da tragédia seja o grande pano de fundo.
A grande lição é que conexões entre estranhos, inimigos, se dão pelo contexto, no qual as pessoas são criadas, movem-se. Marieta interpreta Nawal, a mãe em torno da qual tudo é gerado. Da juventude esperançosa à meia-idade desesperadora, oferece uma performance ainda mais poderosa para o senso de dignidade contido e inabalável que ela traz para isso.
O principal tema é como os laços entre as pessoas são construídos mais além dos laços de sangue entre mães e filhos, ainda vistos como algo facilmente reconhecível. E agora, neste instante, em que todos nos sentimos sem pai e mãe, é importante ver um espetáculo que nos mostra a verdadeira missão do humano.
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