Com uma mudança internacional a cada 3,4 anos, vivi longe dos avós, dos amigos; depois, longe dos pais… Passei a vida inteira longe, mas nunca me preocupei muito com isso, pois sempre tive a sorte de poder pegar um voo e, em questão de horas, chegar perto, onde fosse o perto naquele momento. Até quando morávamos no Suriname, era tecnicamente mais perto de meus pais, que estavam morando no Rio, do que quando estava em Chicago, ou Paris, embora dois voos por semana e a necessidade de fazer uma conexão significavam que, em matéria de tempo, estava muito mais longe. Com meus brevês de piloto, podia até pilotar os aviões do meu aeroclube local, divertindo-me enquanto encurtava as distâncias.
Quando cancelaram os voos no 11 de setembro (dia dos atentados nos EUA), estava com meus pais em Bruxelas. Durou poucos dias, mas, agora, pela primeira vez na vida, senti o peso da distância. Esse coronavírus, que tanto nos isola, tirou literalmente do ar os voos pelo mundo, deixando viajantes presos em destinos de onde penam para tornar a casa. Brasileiros no exterior, estrangeiros pelo mundo, turistas, viajantes a negócios, expatriados, refugiados, tanta gente longe dos seus…
Alguns fizeram suas casas nos lugares para onde foram; instalaram-se como expatriados. Outros, tristemente, perderam suas casas porque seus países não existem mais da forma como eram, e se juntaram às pobres multidões de refugiados. Outros viajaram a trabalho, ou são turistas que foram espairecer, conhecendo novos ares ou visitando lugares queridos. Mas esses ares carregam o vírus coroado e, quando há riscos, queremos voltar para a toca, para perto dos nossos.
É aí que entram os diplomatas, que, contrariamente ao que se passa nos anúncios de Ferrero-Rocher, não vivem de comer bombons com champanhe, mas trabalham duro, sob condições que, às vezes, são mais Indiana Jones do que Elizabeth Arden.
O Ministério das Relações Exteriores de cada país possui uma célula de crise que ajuda a repatriar seus cidadãos. Caso você, seus amigos ou familiares precisem de ajuda para voltar ao seu país, procurem a embaixada ou o consulado local.
Enquanto tantos ficam em casa, impedidos de trabalhar, o Itamaraty, no Brasil, o Quai d’Orsay, na França, e os ministérios de cada país cuidam de repatriar seus nacionais. Se viram para evitar problemas de vistos, varam noites negociando para conseguir assentos em voos lotados, fretar aviões, levar as pessoas para casa.
Os viajantes deveriam verificar os conselhos de viagem dos ministérios, inscrever-se nos consulados; mas nem todos o fazem. Seria bom lembrar a importância dessas formalidades, que, em tempos normais, parecem irrisórias, mas que, em tempos de crise, fazem a maior diferença, e podem até salvar vidas.
A carioca Patricia Barbeyron é psicóloga, tradutora, consultora e piloto de teco-teco. Filha de diplomatas, acompanhou os pais, Márcio e Walkyria Dias, até as embaixadas de Assunção, Cairo e Bruxelas. Casou-se com a concorrência: seu marido, Richard Barbeyron, era cônsul-geral no Rio, à época. Foi embaixatriz da França no Suriname.