O biólogo Mario Moscatelli, colaborador do site, ficou, mais uma vez, indignado depois de ler matéria publicada nesta terça (28/04), em O Globo, sobre cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciarem a presença de coronavírus no esgoto de Niterói — município do Rio, escolhido por ser uma das raras cidades no Brasil que tem saneamento básico adequado e trata mais de 90% de seus efluentes; no Rio, o excesso de contaminantes inviabilizaria a precisão dos testes.
Segue a opinião de Mario sobre o assunto:
“Uma cidade turística, como a do Rio, ou a Região Metropolitana de mesmo nome, que transformaram rios em valões de esgoto ‘in natura’, além das lagoas e baías em latrinas, imaginem só o que não deve estar chegando a esses ecossistemas desde sempre?! O atual estudo da Fiocruz apenas constatou a presença do vírus, não atribuindo ainda a sua capacidade de contaminação pela água, fato que ainda deverá ser avaliado posteriormente.
Todavia, nada, absolutamente nada, é tão ruim que não possa ser piorado, ainda mais depois de décadas de omissões sistêmicas criminosas (para não dizer o mínimo), bem como de usos e principalmente desusos dos recursos públicos em programas de saneamento que não chegaram nem perto daquilo que prometiam. Isso, independentemente da facção que estivesse no poder.
Portanto, é mais do que oportuno lembrar as antigas chagas ambientais, tais como o rio Guandu e seus afluentes cheios de esgoto (recente crise da Cedae ainda não resolvida em suas causas), Baía de Guanabara e seus programas de despoluição fracassados e finalmente o sistema lagunar de Jacarepaguá, com suas “latrinas lagunares” assoreadas e contaminadas.
Independentemente da pandemia e seus desdobramentos, é importante saber se a aproveitaremos para atacar, de uma vez por todas, uma das principais causas da degradação ambiental no Rio, bem como seus desdobramentos nocivos no ambiente, na saúde pública e na atividade turística. Saneamento já! Não apenas para a saúde pública e ambiental como também para gerar empregos!
Imaginemos, apenas na questão exclusiva do sistema lagunar de Jacarepaguá, se os recursos necessários fossem investidos no saneamento da bacia hidrográfica local. O que ganharíamos de forma imediata enquanto cidade?
1- Geração de empregos.
2- Combate direto às doenças de veiculação hídrica, portanto melhoria da condição de vida de milhares de habitantes; apenas na comunidade de Rio das Pedras, seriam beneficiadas 70.000 pessoas!
3- Recuperação dos ecossistemas atualmente transformados em latrinas e latas de lixo.
4- Possibilidade de novos usos e geração de serviços que variariam da pesca ao ecoturismo, lazer, esporte, portanto de mais empregos.
5- Economia na saúde, pela redução das internações e ou atendimentos por conta da falta de saneamento.
6- Incremento na arrecadação de impostos, tanto pela valorização imobiliária como pela diversificação de serviços executados.
Pois então, por que nada acontece? Por que a degradação continua exterminando espécies, mesmo as mais resistentes, bem como a qualidade de vida de todos que moram na região, sem distinção de classes sociais? Não é prioridade gerar empregos?
Sugiro aos administradores públicos que pensem e, mais do que isso, ajam, pois a hora de tomar decisões já passou há muito tempo!”