A travessia do Mar Vermelho, da escravidão no Egito à liberdade na Terra Prometida. Não seria esse o momento que estamos vivendo? Da escravidão permitida no mundo majoritariamente injusto e miserável a que estávamos acostumados, em que pensávamos apenas em nós mesmos, em que a sociedade era tão egoica e individualista, que cada questão se tornava um problema sem proporções, em que o culpado normalmente era o outro, a reclusão completa permitindo a reconexão com nós mesmos e com os nossos. Com os que realmente importam.
Aos poucos, as superficialidades estão se tornando coadjuvantes e até mesmo figurantes nesse palco chamado vida (e não vírus), em que simplesmente já quase nem lembramos do irrelevante, em que o dinheiro talvez não esteja entrando, mas também não está saindo de forma voluptuosa.
A simplicidade está de volta, desde as tarefas domésticas ao estudo com as crianças em casa, e a criatividade para superar o ócio — a tranquilidade de não ficar mais correndo “atrás do rabo” e jogando para debaixo do tapete o que pode ser facilmente encarado com empatia e amor. Finalmente, a reconexão e a consciência para, afinal, nos sentirmos um, nos sentirmos mais completos por termos ganhado mais volume, significância e significado.
Para que assim, e tomara, possamos desfrutar da Terra Prometida — aquela que, por décadas, achamos que existia apenas para nos servir individualmente, como se essa fosse sua obrigação primordial a ponto de a degradarmos todos os dias, cada um de nós e a nós mesmos. A Terra Prometida está dentro de cada um de nós e, com a separação imposta pela pandemia, entendemos que somos um.
Muito abuso, descaso, desconexão, deseducação e desamor. E agora o Planeta se regenera; em menos de um mês, ele já é outro. Que força, que determinação! Que dom nato de se transformar, renascer e brotar – para, então, voltar a ser a nossa tão maravilhosa Terra. A Páscoa celebra a ressurreição de Cristo; a morte para renascer; a vitória da luz sobre as trevas, o milagre da vida.
Será que somos capazes de fazer o mesmo? Somos nós, filhos da mãe Terra e divinas criaturas de Cristo, nosso avatar salvador, dotados de humildade e empatia e compaixão por nós mesmos e pelos tantos (talvez muito mais do que deveríamos) que aqui estamos? Temos a mesma capacidade de nos regenerarmos no amor? Curarmo-nos do vício do estresse, da cobiça, do apego, da aversão, do desespero, do controle, da manipulação e a cobiça e competição pelo poder, sucesso e tantos outros?
Pois então, resgatemos o perdão, a coerência. É preciso coragem. E aos seres humanos ela não falta — basta tirar as máscaras, aquelas de mentirinha… E assim alcançarmos a harmonia que todos almejamos.
Mais Sextas Santas para celebrar esta e tantas vidas!