Vivo de comemorações! Minha vida é cozinhar para celebrar alguma coisa. Sou banqueteira; essa é a profissão que me sustenta e dá prazer. Desde que começou a intensificar o coronavírus entre nós, todas as encomendas que eu tinha foram canceladas. Todas. Já estou neurótica. Não me iludo. Tenho 25 funcionários diretos e indiretos e sei que a minha responsabilidade agora é ajudá-los, também, com apoio financeiro. Não estou pensando em saída imediata nem sei o que fazer no futuro. Sei que preciso ficar calma e dar segurança e apoio a minha família e a minha equipe.
A insegurança é minha também, mas não posso demonstrar. Neste momento, a ajuda tem que ser repentina; calculo, pelo menos, 60 dias parados. As pessoas ligam e falam que não há clima para comemorar nada. Entendo, claro, só que, quando contratada, já depositam a metade. Estou devolvendo — acho que isso é o certo, mesmo já tendo estocado a matéria-prima. Como a maioria é aniversário, certamente vão desistir. Prefiro agir dessa maneira. Eu e outros profissionais da minha área estamos todos inseguros para saber o que fazer no fim do mês, toda essa gente do comércio de festas. E agora?
Fico pensando: quando vamos poder voltar a festejar com a bolsa e o mundo despencando? O mundo todo está refém: minha irmã Baby (Zahoul), que mora no Líbano, liga de hora em hora. A paúra é geral: qualquer tosse, acham que é o coronavírus. Penso que Deus quer chamar atenção do homem para que ele reflita, olhe para o próximo, reveja conceitos e valores.
Madeleine Saade é banqueteira, nome muito presente nas principais comemorações cariocas que admiram a gastronomia árabe, dominada por ela.