Quem não gosta de um forró agarradinho? O chamado bate-coxas pode ser o começo de uma paixão. E quando aparece aquele homão, bonito, apaixonado, sedutor? Tudo isso mistura gêneros, Deus e o Diabo, pecado e santidade, tradição e modernidade — um verdadeiro embalo com o melhor da música do Nordeste. Esse mosaico vira um ótimo espetáculo, engraçado, leve chamado “Furdunço do Fiofó do Judas”.
Com inspiração nos enormes sucessos da Rainha do Xaxado, a cantora Marinês (1935-2007), a peça é uma ótima reprodução da tradição do cordel, com os embates entre Deus e o Diabo, a leve presença da Compadecida, as prostitutas, a diversão do bordel. Trata-se de uma criação da Cia. Bagagem Ilimitada, que marca suas linhas mestras: pesquisa e literatura. A presente opção de fazer um musical com canções genuinamente brasileiras é bem-sucedida.
A direção de Jefferson Almeida orquestra o elenco, formado por Jacyara de Carvalho, Cilene Guedes, Paula Sholl, Pv Israel e ele próprio no papel da prostituta homossexual. O cenário de Taísa Magalhães remete às casas brasileiras de várias portas, e o figurino de Arlete Rua é atemporal, aproximando-nos da ideia medieval do Nordeste. No entanto, é a direção musical e preparação vocal de Deborah Cecília que fazem um verdadeiro musical com cantos impecáveis e números de dança bem executados.
Encantador, sobretudo no tempo em que vivemos, dar risadas inocentes, torcer, acreditar no que se vê e, mais do que isso, dançar, cantar e bater palminhas de alegria entre muitas gargalhadas. Recupera-se um Brasil forte, talentoso, potente em sua cultura. E chegamos à conclusão, como diz a canção: é debaixo dos panos que a gente não tem medo e prova que a arte é resistência — mesmo nos tempos mais difíceis.
Serviço:
Teatro Maison France
Quartas e quintas, às 17h30