Eu vi, na Regina Duarte da política, o mesmo olhar que ela tinha no começo da carreira, quando estava fazendo comigo o curso de interpretação Eugênio Kusnet, em São Paulo, ainda bem jovem. É um olhar determinado, com muita vontade. Somos amigas desde quando ela era solteira. Fiquei muito contente de estar presente neste momento; fui à posse para dar uma força. Quando aquele ex-secretário, escreveu as palavras do Joseph Goebbels (ministro da Propaganda do ditador alemão Adolf Hitler), e o Bolsonaro a convidou, senti uma alegria muito grande: por ela e pelo Presidente ter chamado uma mulher para secretária especial de Cultura. E que mulher!
Dela, eu conheço o caráter da vida toda: é uma pessoa que tem vontade de fazer, é alguém de decisões. A Regina é aquariana, dedica-se ao futuro, não foca só no aqui e agora. Achei muito acertada a escolha, também, por ser alguém com influência na categoria, que vai decidir coisas importantes. Espero uma conciliação, sempre mais fácil para uma mulher conduzir mal-entendidos que pode ter havido. E a Regina está, de fato, interessada em fazer coisas boas.
Não sei por que muitos outros artistas não foram; não falei com ninguém a respeito, mas poucos acabam dispondo desse tempo para se deslocar até Brasília — todo mundo trabalha! Na posse, eu e Regina não conversamos sobre política, nem deu tempo. Almoçamos juntas, tinham fãs-clubes, foi um papo afetuoso. Lá, vi que tem muita gente boa querendo consertar o Brasil. Tem deputados e senadores legais, gente com vontade de ver o País em um lugar bom.
Claro que, estando em um local que é o centro do poder, vemos o outro lado também, mas é, como diz o Cortela (Mário Sérgio Cortela, filósofo): “Ser otimista dá trabalho. Para o pessimista, é fácil: quando algo não sai como ele quer, ele diz: ‘Tá vendo?'” De fora, a gente acha que é tudo uma canalhice só; mais ainda, para quem é carioca, como nós, que esquece até que existe gente do bem, com todos os últimos governadores presos.
Voltando à Regina, só tenho lembranças carinhosas: fui a primeira a saber que ela estava grávida da Gabi. Quando fomos fazer uma novela juntas, ela descobriu e disse: “Tenho de fazer essa novela, não conta pra ninguém”. Lembro-me também de contracenarmos juntas — trata-se de alguém extremamente profissional. Fizemos, por exemplo, “O Astro”, dirigidas pelo meu filho Maurinho (Mauro Mendonça Filho — foi o primeiro Emmy Internacional dele). Lembro também que tomamos banho de piscina na sua casa, na Barra, no tempo em que ela morava no Rio. Mesmo não estando trabalhando juntas, sempre preservamos os laços, portanto posso falar por ser alguém a quem conheço tão bem. Vai, Regina!
Rosamaria Murtinho é atriz de destaque do teatro e da TV, com papéis importantes em inúmeras novelas. Desde 1972, faz parte dos principais nomes da TV Globo. Em 2019, comemorou bodas de ouro com o marido, o também ator, Mauro Mendonça.