Os mais de 1.400 professores da rede de ensino público do Colégio Pedro II, o terceiro mais antigo dentre os colégios em atividade no País, que possui 15 unidades, são contra antecipação das férias, proposta pelo Ministério da Saúde e assinada em decreto por Wilson Witzel.
A Associação de Docentes do Pedro II (ADCPII) enviou um comunicado cujo trecho diz “a suspensão de aulas não deva significar antecipação de férias, que é um direito e deve ser respeitado. A retomada do calendário escolar deve ser acordada, coletivamente, nas assembleias, tão logo retornemos à normalidade das aulas. Prestamos nossa solidariedade aos colegas da rede pública e privada que, atacados por decisões governamentais e/ou de gerências privadas, têm sido obrigados a produzir material, avaliar alunos e ainda conviver com o ideal ilegal de antecipação de férias. Prestamos nossa solidariedade também aos alunos que não têm condições financeiras e psicológicas de corresponder ao que uma educação conservadora e antidemocrática exige deles”.
Ainda no texto, a rede defende a adaptação do ensino e que o tempo é de sacrifícios e espera, “com exceção do presidente da República, ninguém discorda disso” e comenta sobre a pressão de produzir conteúdos, chamado de “conteudismo”, segundo a associação, um vírus que circula nas escolas, nas casas e nos grupos de WhatsApp.
“Toda vez que alguém diz ‘hoje não teve aula, foi só filme’. O desespero tem feito diversos colégios, públicos e privados, exigirem de seus professores a produção de material didático para ser enviado aos alunos durante o período de quarentena. Mas as aulas não estão suspensas? Por que temos de produzir? A resposta é simples: nossa visão de educação ainda é conservadora. A forma como a educação à distância (EAD) está sendo implementada pelas redes pública e privada em tempo de pandemia é a prova disso. Não adianta citar Paulo Freire, modificar LDB, criar leis de inclusão cultural e social, falar sobre igualdade, pluralidade, se não conseguimos o básico: entender que educação não é só conteúdo. Não somos contra o ensino à distância, muito menos defendemos a ausência de conteúdo escolar. Porém, vivemos um momento delicado, que nos obriga a olhar tudo de outro modo, inclusive nossa forma de educar. Pessoas adoecem a todo momento. Precisamos cuidar de nós e dos que amamos. Isso também é aprendizagem. Obrigar professores a produzirem conteúdo, pressionar alunos a estudarem agora os fará adoecer. Dedique-se ao que lhe faz bem. Se lhe faz bem estudar as matérias da escola, estude, mas por prazer, não é tempo de cobrança. Não se permita contaminar com o vírus ‘conteudista’, com o falso heroísmo da EAD, seja humano, seja crítico”.