Há 14 anos em cartaz com “A Alma Imoral”, já vista por mais de 500 mil espectadores pelo País, e mantendo na estrada a peça “A Lista”, de Jennifer Tremblay, Clarice Niskier escreve, produz e estreia o novo espetáculo “A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong”, inspirada nas músicas de Zeca Baleiro, sob a supervisão de Amir Haddad, nessa quinta (05/03), no Teatro Petra Gold, no Leblon. Sala lotada para assistir à visão crítica da artista ao momento atual do Brasil, com Zeca na primeira fila. Foram três anos de pesquisa nas letras do compositor, reescrevendo o texto com colaboração do próprio, com quem se encontrava de três em três meses, para ajustar a versão final. “Zeca tem um olhar afinadíssimo para a cultura popular e para os acontecimentos do mundo – sabe mesclar como ninguém humor, afetividade e crítica”, conta Clarice.
Um dos momentos mais descontraídos foi quando Haddad subiu ao palco e disse: “Vim preparado para ver um fracasso, mas aqui tem mais um sucesso. E digo que ela não fez nada do que eu disse. É outra peça!”.
O espetáculo tem 59 músicas do cantor e compositor maranhense (trechos e íntegras) e fragmentos de textos de Sérgio Buarque de Holanda, Ferreira Gullar, Eduardo Galeano, Hélio Pellegrino e Oswald de Andrade, além de temas livremente inspirados nos livros do historiador Yuval Harari (autor de “Sapiens: uma breve história da humanidade”), criando um roteiro teatral de suas memórias político-sociais e apresentando os motivos de preferir ficar no Brasil a deixá-lo.
Mas e o título, Clarice? Ela explicou durante a apresentação: “O sorveteiro da carrocinha da esquina me dava uma caixa vazia, a de 25 unidades de chiclete Ping Pong. Eu forrava com folhinhas verdes, e colocava a esperança (inseto) ali. Às vezes, ela fugia, entediada; voltava pra mata, eu entendia: ficar presa, coisa chata. Criar esperança é muito bom — evita mau olhado, resolve problemas sexuais e traz o futuro em três dias”.