A pedido da coluna, o biólogo Mario Moscatelli comenta a decisão do governo de liberar a entrada de cruzeiros marítimos em Fernando Noronha. Considerada por muitos o maior paraíso brasileiro, a ilha, em Pernambuco, é ponto de turistas brasileiros e estrangeiros, principalmente dos que amam e respeitam as belezas naturais. Trata-se de grande e sensível ecossistema, parada certa de muitos turistas e pessoas apaixonadas por belezas naturais. Existe também a intenção de instalar novos “recifes artificiais”, com naufrágio de embarcações para atrações de mergulho. Flávio Bolsonaro esteve na ilha com o presidente da Embratur, Gilson Machado. Em vídeo, o senador declarou: “Estamos desatando os nós dessa legislação para permitir que esses segmentos sejam muito melhor explorados por nosso País”, declara.
Moscatelli: “Lembro que Fernando de Noronha já vinha apresentando problemas referentes à produção de lixo, presença de animais exóticos e comprometimento da cobertura vegetal local, que já é bem reduzida. A princípio, o turismo de massa, que a chegada de transatlânticos poderá trazer para o ecossistema insular, acarretará, sem dúvida, um alto impacto no ambiente, principalmente num lugar como o Brasil, onde a fiscalização e as leis ambientais são normalmente frágeis e não respeitadas, respectivamente. Eu me pergunto e já até sei a resposta: Fernando de Noronha já resolveu os problemas que o atual modelo de turismo levou para a região? Fernando de Noronha já dispõe de infraestrutura para dar conta desse novo público?”
E completa: “Eu desconheço as novas regras em detalhes, recentemente criadas pelo governo Federal, portanto fica limitada minha análise. Destaco, porém, que, devido à fragilidade do ecossistema, qualquer mudança na gestão local deveria ter passado por uma avaliação pormenorizada dos pesquisadores que por lá desenvolvem as mais diversas pesquisas sobre a vida marinha local. Fico preocupado com esse tipo de mudança, haja vista as já conhecidas posições do atual governo, por exemplo, em relação ao aproveitamento turístico na baía de Ilha Grande, onde o carro-chefe da proposta tem sido alterações nas unidades de conservação locais, o que, no meu entendimento, é uma medida completamente na contramão do que seria necessário para, justamente, incrementar o turismo ambiental”.
Mario encerra: “Corremos o claro risco de comer a galinha dos ovos de ouro, pois continuamos pensando e agindo como uma colônia de exploração do século XXI, onde o negócio é faturar o máximo possível no menor prazo possível, e o resultado é esse que vemos todos os dias no Rio. Espero estar errado apesar de saber que não estou.”