Existe uma enorme iconografia sobre personagens de múltiplas personalidades. Há monólogos que são verdadeiros “tour de force”, quando um só ator interpreta vários personagens e, também, o poeta que se definia “eu sou um, eu sou mil, eu sou trezentos.” Em Billdog 2, o ator Gustavo Rodrigues interpreta 46 personagens na adaptação da premiada peça do autor inglês Joe Bone, com supervisão artística do autor e de Guilherme Leme Garcia.
Utilizam-se os elementos clássicos dos quadrinhos, das histórias de bang bang, das narrativas policiais, em que um personagem masculino sempre atua como um fora da lei, mesmo sendo um super-herói que se esconde em falsa identidade. Billdog é um clássico matador de aluguel. Marrento, falsamente corajoso que, no diálogo com os outros personagens, constrói uma trajetória na qual prevalece o sentimento de superioridade. Essas estruturas de caráter fálico sempre jogam para uma divisão do que é certo e do que é errado.
A dúvida clássica entre o bem e o mal permite que Gustavo consiga levar adiante 46 personagens diferenciados, voz, corpo, andar, gestos que constroem, a partir do fio condutor de um tratamento psicanalítico, o confronto permanente do sujeito com os percalços que encontra para realizar aquilo que quer para seu destino.
Billdog é reforçado pelo acompanhamento do músico Tauã de Lorena, que assina a direção musical e executa, ao vivo, a trilha sonora original composta por Ben Roe, e pela capacidade de Gustavo de ser um sonoplasta ao vivo, reproduzindo todo tipo de som: buzinas, copos… O cenário da caixa preta representa, com acerto, a metáfora da vida: aquilo que está lá, cheio de elementos que nem nós mesmos conseguimos desvendar.
Fotos: Guarim de Lorena
Serviço:
CCBB Rio (Rua Primeiro de Março, 66 – Centro)
Quarta a domingo, às 19:30