Ariano Suassuna expressa sempre o melhor do Brasil: a carnavalização permanente, o povo com voz, os heróis que não cumprem as melhores regras da sociedade, o palavreado com força na prosódia nordestina, o embate religioso. Está tudo lá. Um Brasil é uma humanidade vestida de alpercatas. Esse é o presente que a Cia. Omondé nos dá em comemoração a seus 10 anos, com a encenação de “Auto de João Cruz”.
Sob a direção de Inez Vianna, o grupo tem como focos encenar textos de autores brasileiros e dialogar com os temas que mexem com nossos corações e mentes. Em cena, estão André Senna, Elisa Barbosa, Iano Salomão, Júnior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes, Tati Lima e Zé Wendell, todos com ótimas atuações ao trazerem à cena os tipos brasileiros com seus jeitos de ver a vida e fazê-la acontecer.
Somos recebidos pelos atores, o que quebra a quarta parede, cria o clima de proximidade e já insere a plateia. Depois, Leonardo Brício torna-se um apresentador, figura importante no gênero que mistura cordel, circo. A partir daí, em um cenário de troncos, que nos lembra o árido, mas também algo espiritual, desenvolve a trajetória de João da Cruz, que, tal qual Fausto, resolve trocar a vida de marceneiro pela tentação da riqueza.
O grupo consegue corresponder, de forma plena, ao que o autor se propõe: trazer os embates em todos os níveis, para evidenciar a falibilidade humana. Estão lá Deus e o Diabo, o filho que abandona os pais, o material e o espiritual, a simplicidade e o exagero. São os movimentos da vida, mas é vida e morte Ariana em uma ótima produção e que nos faz desejar mais 100 anos à Cia. Omondé.
Fotos: Rodrigo Menezes.
Serviço:
Teatro Firjan SESI ,Centro
Quinta a sábado, às 19h
Domingo, às 18h.