Além dos artistas, tem um nome na frente, no meio, atrás de grandes sucessos do nosso cinema, como “Minha Mãe é uma Peça” 1, 2 e 3, “De Pernas pro ar”, “Até que a sorte nos separe” 1, 2 e 3, “Meu nome não é Johnny” e muitos outros: o distribuidor (e às vezes produtor) Bruno Wainer. Ele é dono da Downtown, a maior e única distribuidora 100% dedicada ao cinema nacional, que, em 14 anos no mercado, é responsável pelas maiores bilheterias do País. Dos 40 longas mais vistos nos últimos cinco anos, 32 são da DT Filmes, segundo a Filme B Box Office. “Minha Mãe é uma peça 3”, por exemplo, vive momento de esplendor: está em sua oitava semana em cartaz, em 502 telões, com um total de 11.235.00 milhões de espectadores, passando à frente de “Tropa de Elite 2” no ranking dos longas brasileiros mais assistidos, ocupando o terceiro lugar na história: atrás apenas de “Nada a Perder” e “Os Dez Mandamentos” — segundo expectativa de Wainer, ele deve entrar em segundo daqui a algumas semanas.
Mas o amor ao cinema na vida desse empresário vem de longe, quase da infância: caçula de três irmãos, Bruno é filho dos jornalistas Samuel Wainer (1910-1980) e Danuza Leão. Como o pai foi para o exílio durante a ditadura, viveu boa parte da infância no exterior e entrou no cinema pela primeira vez no final dos anos 70 (também pela energia, pelo perfil, pelo modo de vida dos pais), como assistente em produções de Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Walter Lima Jr. e Ruy Guerra. Na década de 90, associou-se à Lumière para distribuir filmes franceses no Brasil e começou a ter um olhar a tudo de produção e distribuição, até fundar a Downtown. Daí, deu nisso que a gente sabe. Leia sua entrevista:
A vida de um distribuidor de filmes no Brasil vai bem?
Vida esquizofrênica. Por um lado, temos resultados excepcionais; por outro, essa confusão sem fim do governo com a cultura nos deixa de cabelo em pé.
Qual o papel do distribuidor e que diferença pode fazer para um filme?
O início do trabalho do distribuidor está na escolha do projeto. É aí que começa a fazer diferença; depois, é a capacidade de avaliar corretamente o potencial do filme, que vai determinar quanto vai ser investido. A partir daí, é traçar a estratégia de marketing, produzir boas peças de venda (trailer, cartaz, e derivados), escolher a data certa, de preferência que o seu filme seja o mais forte daquela data. Precisa também ter peso junto aos exibidores, para uma boa exposição dos materiais.
Pelos últimos números, “Minha mãe é uma peça 3” é o terceiro filme brasileiro mais visto. Consta que você foi o primeiro a acreditar no talento de Paulo Gustavo. Como aconteceu esse encontro e o que o levou a acreditar nele?
Daqui a alguns dias, será o segundo filme mais visto, pois só faltam 30 mil ingressos pra ultrapassarmos a bilheteria de “Dez mandamentos” e o filme ainda está em cartaz em mais de 500 cinemas. Conheci o PG fazendo uma ponta marcante no filme “Divã”, que distribuí, como o cabeleireiro da Lilia Cabral. Aí, a produtora do filme me contou que ele encenava um monólogo no circuito off Broadway carioca chamado “Minha Mãe é Uma Peça”, e ela queria minha opinião pra ver se a história daria um filme. Adorei! Vi o pequeno público ir ao delírio; então topei a empreitada. Contra a crença geral, conseguimos produzir. O resto é história.
É muito representativo passar à frente (na bilheteria) de “Tropa de Elite”? A comédia está atrás apenas de “Nada a Perder” e “Os Dez Mandamentos”!
Um detalhe: há uma grande polêmica com os dois filmes evangélicos, de que, aliás, sou codistribuidor por causa da estratégia heterodoxa da venda de ingressos (chegou aos cinemas com ingressos mais baratos). Boa parte da imprensa e do setor questiona a legitimidade desse resultado. Por isso, “Tropa de Elite 2” era considerado unanimemente o filme brasileiro mais visto nas telas de cinema. Conseguir vender mais ingressos que o “Tropa” tem a importância de mostrar que, apesar de tudo, o cinema brasileiro está longe de ter atingido todo o seu potencial. Se um dia tivermos uma política que tenha como real objetivo transformar o setor numa potência audiovisual pra valer, o céu é o nosso limite.
A propósito, você fez o lançamento dos maiores sucessos do cinema nacional nos últimos anos. Acredita que as pessoas se identificam com as histórias?
Sou coprodutor de todos esses filmes, além de distribuidor. Você tocou no ponto certo. O motivo maior do sucesso desses filmes é o alto grau de identificação do grande público com as histórias ali retratadas. Mas não basta identificação; esses projetos (e outros) juntaram os mais talentosos diretores, roteiristas e comediantes.
Atualmente, para fazer sucesso no cinema nacional, tem que ser comédia?
Nada disso. Tanto é que, até então, a maior bilheteria era um filme de ação. O que acontece é que, por circunstâncias complexas de explicar aqui, a comédia é, dos gêneros apreciados pelo grande público, o mais viável para ser produzido. Um orçamento de um filme de ação é no mínimo o dobro e muito mais difícil de ser levantado, pelas regras atuais pro setor.
Há quem fale que é uma comédia triste, já que todo mundo sai chorando. Acredita que Paulo Gustavo tenha se conectado com as pessoas, numa espécie de inconsciente coletivo?
Triste? Nada disso! É uma comédia emocionante. Não há dúvida que, acima de todos os talentos do PG, como ator e autor, está sua capacidade de intuir o sentimento do grande público.
Com a cultura vivendo momento indefinido, digamos assim, qual a sua explicação para esse recorde?
Pra mim, a explicação desse sucesso é a seguinte: num momento de intolerância generalizada que vivemos, o filme traz justamente uma mensagem de amor e respeito pelas pessoas, acima de suas opções politicas, orientações sexuais e classe social. Com isso, o público ficou emocionado e se sentiu abraçado e acarinhado pelo filme, o que nos dá esperança de que nem tudo está perdido neste País.
A mensagem importa muito neste momento atual?
Neste caso, foi determinante.