Cinco minutos de conversa com Dadá Coelho podem adiar qualquer indício de mau humor. A jornalista, roteirista e humorista vai começar o ano fazendo o que mais gosta: os outros rirem, em “A Culpa é da Carlota”, do Comedy Central (TV a cabo), com estreia dia 3 de fevereiro. O programa é a primeira mesa-redonda de humor para a televisão com elenco 100% feminino, vindas de várias regiões do País. Além dela, que é piauiense, mas carioca de “amor e humor” há mais de 15 anos, Cris Werson (SP), Arianna Nutt (AL), Bruna Louise (PR) e Carol Zocooli (MT). Seria a versão Luluzinha do já conhecido “A culpa é do Cabral” (o descobridor do Brasil, não o político), que foi inspirado em Carlota Joaquina, mulher do rei D. João VI.
Nem estreou, e uma segunda temporada já foi aprovada. A primeira tem 13 episódios e foi gravada no Teatro Gazeta, em São Paulo, com plateia de 500 pessoas, com auditório interativo. Em pauta, as particularidades regionais do Brasil, seus problemas, costumes e características sob uma perspectiva sarcástica, picante e inteligente. “Estou na expectativa e também vou começar a gravar uma série no dia 6 de fevereiro, uma espécie de estreia como atriz. Estou até incomodada com essa sensação de dias felizes. Existe uma ditadura do lazer, em que você tem que estar feliz, ter dentes brancos, reluzentes, uma loucura”, diz ela, afirmando que vão falar de tudo nas rodadas, menos mimimi. “A gente fala de tudo, mas fugimos daquela coisa mulherzinha com TPM; a gente foi para o pau dentro. Acho que botamos pra moer porque não ficamos naquela coisa do saldão feminista do tipo ‘venha conhecer o primeiro loteamento feminista do Brasil’. O humor é o abrigo da liberdade, e acredito que conseguimos rever coisas, criar coisas novas e mudar o que não serve mais”.
Mesmo com nome e sobrenome no mercado, Dadá acredita que o mundo da comédia ainda é machista. “O meu humor é sexualmente transmissível, mas, como diria o Eduardo Galeano, ‘o machismo é o medo dos homens das mulheres sem medo’. Eu adoro isso, e é verdade. O machismo começa com M de medinho. Existe um boicote no meio, e os caras pegam pesado. Mas a gente está fazendo um caminho bonito, com Tatá Werneck, Ingrid Guimarães, Suzana Pires, e rola uma sororidade nesse sentido. A gente não está inventando a roda, só colocando gasolina no motor”.
Outro lado característico de Dadá é a “picância” em tudo que diz. “O sexo rege tudo, tanto que a gente nasceu porque alguém fez isso lá atrás. O humor é um colete salva-vidas no meio desse naufrágio todo. Primeiro, porque não dá pra concorrer com os caras (políticos), tanto que não falamos em política no programa, porque todos os dias tem novidade. Tentamos, mas a realidade é inesgotável. O humor pra mim é profano, tudo pode ser questionável, ironizado, dito, não tem esse papo de limite”. Alguma vez perdeu o amigo, mas não a piada? “Não poupo nem o Paulo (Betti), meu marido. Faço piada com ele o tempo todo. Digo que nossa conexão é muito forte porque o que nos mantém vivos no relacionamento é estarmos apaixonados pelo mesmo homem, ele”.
UMA LOUCURA: “Narcisa Tamborindeguy. Uma vez, ela me socorreu no carnaval. Pensei: ‘Tô mal mesmo!’. Quando eu acordei, do nada, Narcisa estava me acudindo; daí eu percebi, égua, agora tô ruim, quando o seu Samu é a Narcisa…”
UMA ROUBADA: “A ‘fratura’ do cartão de crédito. A pessoa vai gastando, um jantar, uma bobagem, quando chega o cartão é uma roubada. Boletos também são uma furada e cartão, uma ilusão.”
UMA IDEIA FIXA: “Quando tudo estiver ruim e alguém chega pra dizer: ‘Dadá, vamos pra Fernando de Noronha? Com tudo pago?’ Amigo é isso, amor. Se tiver um surubão então… Mas agora o surubão é em Trancoso, né? Ihh, tenho que rever essa locação! 2019 não foi um ano bom pra Noronha…”
UM PORRE: “Não sei, fiquei muito tempo sem beber. Não sou mais essa pessoa, mas, quando bebia, era tomar aquela saideira desnecessária. Naquela hora, você já está bebendo creolina com querosene no gargalo. Isso, pra mim, é um porre, ser inimiga do fim.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Eu tenho uma autoestima tão equivocada, que nem me vejo nesse lugar.”
UM APAGÃO: “Menina, uma vez que cheirei loló (um preparado de clorofórmio e éter), o lança-perfume dos pobres, durante um show do Titãs, no Piauí. Estava tocando ‘Marvin’, e cheirei esse negócio – meu Jesus, nunca mais! Acordei com a boca cheia de formiga, os cachorros lambendo, no porre de loló. Foi puxado. Ainda bem que as coisas melhoraram”.
UMA SÍNDROME: “A síndrome de dar”.
UM MEDO: “O segredo de tudo está na cura do medo. Tenho medo de sentir medo. Mas ele pode te dar eletricidade ou paralisar, como subir no palco; pode te dar aquela energia ou travar. Não dou confiança para o medo, não; ele está ali mordendo meu calcanhar, e eu digo ‘se apruma aí, filho duma rapariga’.”
UM DEFEITO: “Só um? Acho que as qualidades estão se sobrepondo aos defeitos.”
UM DESPRAZER: “Fofoca é um desprazer. Eu gosto de fuxicar, mas para proteger o outro, não para denegrir. A fofoca é o discurso do fracassado. Ela nasce e cresce contra tudo que nasce e cresce. Fofoca é um jeito que a pessoa dá pra justificar a vida que ela não tem.”
UM INSUCESSO: “Eu não acredito nem no sucesso, nem no fracasso. Mas essa coisa da atriz que não rolou muito, mas agora está acontecendo. E tem casa própria? Uma coisa que eu gostaria de ter, que é o sonho do brasileiro. A gente é pobre até no sonho.”
UM IMPULSO: “Meu impulso é gastar. Talvez, por isso, eu não tenha a casa própria. Não sou muito consumista, mas tenho uma relação de culpa com o dinheiro, que não leva desaforo pra casa e, como eu não tenho casa…”
UMA PARANOIA: “Tenho uma relação bipolar com as redes sociais. Fico noiada de estar conversando com um avatar, porque as pessoas se escondem. Então tenho os seguidores e perseguidores. E quando você se expõe, a bordoada pode ser grande, mas gosto de conversar com o povo, de gastar meu humor. Mas as pessoas criam personagens, postam foto com o ex-namorado para dizer que é uma pessoa evoluída. Não quero nem dar bom dia para o meu ex. ‘Deusolivre’, ele foi um terrorista emocional, ficou com mais 13 mulheres, todas com CEP e CPF. Veja se vou fazer fita!”