A Associação de Docentes da UFRJ (ADUFRJ), insatisfeita com a indicação — feita pelo deputado Marco Feliciano — de Letícia Dornelles, jornalista, escritora e autora de novelas, para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, fez um manifesto público nesta segunda (28/10). A universidade tem parceria constante com a Fundação.
“A comunidade acadêmica foi surpreendida pela nomeação de Letícia Dornelles. A entrevista com a nomeada, num jornal de grande circulação (O Globo), dá a exata dimensão do risco que a instituição corre. Guardiã de um importante acervo, de enorme relevância para a memória do País, a Fundação sempre contou, entre seus diversos presidentes, com nomes que, em primeiro lugar, se destacavam por uma vida dedicada aos livros, aos estudos e de sólida formação acadêmica. Além do cuidado com seus acervos, a FCRB é reconhecida por produzir e incentivar os estudos filológicos, literários, de história cultural e de ciência política”, diz o texto. Desde a fundação, em 1930, é comum que seus presidentes sejam indicados ao governo pelos próprios funcionários — todos acreditavam que seria Rachel Valença, funcionária da casa por mais de 30 anos.
O texto dos professores também diz que “se a proposta é popularizar o espaço, dar mais visibilidade e aproximá-lo da população, a pessoa indicada, em vez da presidência, poderia, quem sabe, dar sua contribuição numa assessoria de comunicação, mas jamais assumir a responsabilidade de conduzir uma instituição com o grau de complexidade que exige. O descaso com a produção acadêmica e científica brasileira vem alcançando patamares inaceitáveis. A ADUFRJ repudia a instrumentalização político-ideológica que estão sofrendo as instituições brasileiras, em particular as instituições de ensino e pesquisa, cuja comunidade vem sendo emudecida nos processos de escolha de seus dirigentes. Queremos que este seja não apenas um grito de alerta, mas sim um gesto forte o suficiente para que possamos dar um basta ao desmonte e à destruição das instituições e da pesquisa no Brasil”.
A coluna entrou em contato com Letícia, que não sabia sobre o manifesto e pediu calma aos funcionários. “Quero que se acalmem; assim só geram intriga. É triste. Trabalho com Cultura há 28 anos. Sou jornalista, autora de TV, escritora com seis livros publicados no Brasil, Portugal e Estados Unidos. Sou pesquisadora e trabalho com inclusão social. Havia uma presidente interina há 1 ano (Lúcia Maria Velloso de Oliveira). Se o governo optou por meu nome, agradeço a confiança e a honrarei. Trabalharei com afinco, ética e respeito, como sempre agi na minha vida profissional. Minha relação é com a Fundação Casa de Rui Barbosa. E é com esse grupo que vou dialogar assim que assumir”, disse.