Vivemos na era da tecnologia, da rápida informação, portanto, do acirramento das impaciências — se uma coisa não é rápida, não serve. Esta é uma época de faces endurecidas e de caminhos penosos, risos falsos e modismos infinitos. A violência se espalha no dia a dia — não mais apenas pelas formas clássicas de guerra, que continuam existindo em todo lugar, mas como terrorismo nas modalidades mais sutis e nas mais grosseiramente cruéis.
Pessoas são mortas por balas perdidas, assassinadas por motivos fúteis; o trânsito mata sem cessar; encostas e prédios desabam; praias são invadidas por óleo venezuelano de má qualidade, como é a mente de quem o derramou, pouco se importando com o desastre ecológico. Joga-se tudo fora, e pouco importa o dano: garrafas pet, tampas de plástico, roupas velhas, móveis, latas, etc. Barragens também se rompem, jogando o lixo tóxico que devasta, por gerações, regiões outrora ricas e produtivas. As empresas responsáveis cinicamente acham que vão resolver tudo com dinheiro, protelando o que devem pela lentidão contumaz da Justiça. Jogam-se pessoas fora como lixo.
Em qualquer lugar, existe tráfico de drogas; o usuário certamente não é inocente e nem vítima. Todavia, as drogas sintéticas são apenas uma fração pequena dentre os milhares de outras drogas (incluindo programas de televisão) que destroem a mente do indivíduo. A má qualidade mental do distribuidor encontra a frágil mente do consumidor, propícia a ser destruída pela busca mentirosa de antídotos rápidos para o seu sofrimento.
O outrora cidadão hoje é apenas um número de CPF que sobrevive em meio à indiferença social — uma espécie de quase nada, muito desajeitado, perseguido pela ganância insofismável da Receita Federal. Por sua vez, o tráfico político de influências, que sustenta a extorsão fiscal, não é menos devastador do que as drogas.
A medicina se tornou comercial, fria, calculista, atendendo sem levar em conta a singularidade de cada um. Os planos de Saúde estão cada vez mais perversos, alegando razões de mercado.
A desonestidade se espalhou em todos os setores, chancelada pela desavergonhada corrupção política, pelos planos renitentes e arrogantes da doença que toma de assalto até mesmo os órgãos de Justiça do País. Se neles não há corrupção por meios monetários, há a corrupção ética e a incapacidade de enxergar um palmo além do próprio nariz. São como ETs habitando um palácio incrustado ali no meio da famosa esplanada.
O mundo deles não parece ser o dos cidadãos. Fazem parte do pior problema e nada solucionam. Não estão ali por mérito de concurso e vocação, e sim obviamente por indicação política, fazendo confusão e causando o mal. Invertem a lógica do bom-senso. Agem na contramão da vontade popular.
Vivemos numa época em que os sentimentos se esvaíram do cotidiano, em que as pessoas estão cada vez mais imersas em si mesmas e nos seus pequenos aparelhos que funcionam como espelho. Nele se admiram o tempo todo: existe alguém mais bonito do que eu, mais poderoso, mais parecido com as caras e bocas de selfies artísticos?
Para que servem, então, nesta época difícil, as palavras de um psicanalista? E para que serve a Psicanálise?
Não é uma resposta, mas posso dizer que existem personalidades nesses tempos turbulentos que não cederam aos caminhos comuns, não se deixaram subjugar pelos métodos triviais e superficiais. São personalidades que se preocupam com o futuro, que buscam caminhos onde os pensamentos libertam a sabedoria colhida em épocas mais florescentes, para semear novamente o que parecia esquecido.
Nesses indivíduos, a luz filtrada através das formas de linguagem da compreensão e da compaixão acomoda-se por si mesma em delicados padrões, para que a beleza seja percebida. São pessoas que se transformam, que desenvolvem a coragem de existir, tornando-se cada vez mais autênticas e livres dos sofrimentos tóxicos impostos pelo dia a dia.
São pessoas que podem lidar com os caminhos difíceis do Ser, do Não Ser, da linguagem, da criatividade e do exercício do Pensar.