Tem uma turma que aguarda com ansiedade “o fim”, seja ele qual for. Coisa de gente que, na minha opinião, não tem muito o que fazer, de extrema baixa estima e que não sei bem o que ainda está fazendo por aqui, pois, da minha parte, faço o possível e até o impossível para que isso, ao menos no tema ambiental, não aconteça tão cedo.
No entanto, independentemente do que você acredite, o fim não está próximo — já está acontecendo neste exato momento em inúmeros ecossistemas bem perto de nós. Exemplo mais recente desse armagedon ambiental é o que o litoral norte/nordeste desse “lugar continente” que se chama Brasil anda passando há mais de um mês.
Dentro do mesmo protocolo letárgico, já evidenciado na questão das queimadas no bioma Amazônico, o governo Federal apenas se deu conta do tamanho da encrenca, no caso da chegada do óleo, depois de mais ou menos um mês das primeiras manchas; pelo menos é isso que se evidencia das informações trazidas pela imprensa. Agora, se a “imprensa golpista” está mentindo, que as autoridades competentes se entendam com ela.
Fato é que milhares de metros cúbicos de óleo atingiram ecossistemas para lá de vulneráveis e essenciais para a tal biodiversidade costeira. Remover óleo das praias é “mole” quando comparado à contaminação que atinge recifes, costões rochosos e manguezais. Aí, o prejuízo ambiental não é apenas espacial, mas temporal, pois esses ecossistemas, dependendo do grau de contaminação, poderão levar décadas até se restabelecerem ao estado pré-impacto.
Enquanto isso, as espécies que se alimentam, reproduzem e abrigam em ambos os ecossistemas, inicialmente, serão dizimadas e posteriormente sofrerão a consequência da contaminação por décadas; repito, dependendo do grau da contaminação.
Isso eu pude constatar pessoalmente nos manguezais do município de Magé, no fundo da Baía de Guanabara, atingidos pelo óleo que vazou dos dutos da estatal petrolífera em 2000. Depois de dez anos, isto é, em 2010, os manguezais do rio Suruí continuam exalando cheiro de óleo. Destaco que, na ação judicial que ocorreu contra os possíveis responsáveis, salvo engano, ninguém foi condenado. Não é bom? Como sempre digo, nesse lugar, degradar é assegurado com amplo direito de defesa e quase com a certeza de que não vai dar em nada para as pessoas físicas. Pelo menos para os degradadores, sempre muito bem assessorados por ótimos e bem relacionados escritórios de advocacia, a certeza da impunidade tem sido quase sempre cristalina.
Voltando ao atual desastre, destacando que outros estão sendo preparados pela nossa cultura de usar até acabar, ainda não se sabe de onde se originaram as gigantescas manchas tampouco os delinquentes que as produziram. Temos de tudo para explicar o atual juízo final costeiro, desde teorias de conspiração internacional, navios da Segunda Guerra afundados, “ataque alienígena”, enfim, não faltam hipóteses, e quem trata de forma séria o assunto, tal como a Marinha brasileira e os pesquisadores de várias instituições universitárias, continuam buscando respostas para esse que é o maior desastre ambiental costeiro ocorrido no Brasil.
Vale lembrar que fora a questão ambiental, tema que pouco tem importado historicamente à classe política de um lugar que continua pensando e interagindo com o ambiente como uma colônia de exploração, os prejuízos econômicos tanto na pesca artesanal, comercial, ecoturismo e demais atividades econômicas associadas à existência e saúde dos ecossistemas afetados, ainda nem foram levantados.
Da mesma forma que vejo com tristeza a situação costeira do País, asfaltada pelo óleo criminoso, no dia 18/10/2019, compareci à audiência pública da Assembleia Legislativa do Rio, apresentando o quadro terminal e potencialmente apocalíptico no próximo verão, do sistema lagunar de Jacarepaguá. Depois de três horas de produtivo diálogo entre os pouquíssimos representantes da sociedade civil presentes, Ministério Público estadual, Secretaria de Estado de Ambiente e representante da Câmara de Vereadores, cheguei à triste conclusão de que, apesar das claras boas intenções apresentadas por todos, os agentes da degradação da região costeira do Rio continuam sentindo-se muito além das leis e consequentemente a degradação criminosa, diária, paga pelo contribuinte e cometida por quem deveria zelar pelo saneamento eficiente irá continuar ainda por tempo indeterminado.
Em resumo, o juízo final para as lagoas da Baixada de Jacarepaguá, como para a costa atingida pelo óleo, é agora! Em relação ao juízo final tanto aguardado por alguns, esse poderá ser durante o próximo verão, pois, como eu digo e quase ninguém me dá crédito, a Natureza não se protege, se vinga!