Amo o Rio. Uma cidade incrível, onde a natureza exuberante e variada é das mais lindas do mundo. Sou filho dessa cidade e, além de povoá-la com meus filhos, tenho mais de 40 esculturas — minhas filhas também — espalhadas por diversos bairros, de norte a sul, leste a oeste, e até no Corcovado, bem pertinho do lindo Cristo Redentor. Tenho orgulho do Rio e porque gosto tanto é que me sinto tão triste, deprimido mesmo, de ver a decadência, o abandono, o desmando em que a cidade hoje se encontra. Também, com cinco ex-governadores presos e um bispo na Prefeitura, que se elegeu dizendo que ia cuidar das pessoas e nunca as pessoas foram tão mal cuidadas, não poderia ser de outro jeito. Fui assistir outro dia a “Coringa”, ótimo filme de Todd Phillips, com Joaquim Phoenix e, ao ver a distópica cidade Gotham City, cheia de malandros, ratos e porcaria, pensei estar vendo o Rio de Janeiro.
Recentemente eu soube que o busto do jurista e político Cândido de Oliveira, nascido em 1845, fundador da Escola Nacional de Direito, que havia sido restaurado por mim e reinstalado no Largo do Caco, Centro da cidade, desapareceu do pedestal. Ou seja, foi furtado, na cara dura, de um dos lugares mais movimentados da cidade, para certamente ser negociado como sucata por alguns trocados.
Volta e meia me avisam que alguma estátua que eu fiz foi pichada, amputada, roubada e não posso deixar de me revoltar. Minha revolta não é exatamente contra os vândalos, mas contra todo um sistema que não dá o menor valor à educação, à cultura, à arte. E verdade que o Brasil, em sua maioria, foi povoado por degredados, exploradores, invasores, aproveitadores, piratas de todo o tipo e escravos explorados. Uma sociedade assim não valoriza o saber, o espírito; só valoriza mesmo o dinheiro e os meios necessários para emergir entre os poderosos.
Um professor recebe aqui, em média, R$ 1.800, enquanto que um deputado ganha R$ 33.763, auxílio-moradia de R$ 4.253 ou apartamento de graça para morar, verba de R$ 101,9 mil para contratar até 25 funcionários, de R$ 30.788,66 a R$ 45.612,53 por mês para gastar com alimentação, aluguel de veículo e escritório, divulgação do mandato, entre outras despesas. Artista aqui é tido como vagabundo, malandro ou bobo, porque gosta de trabalhar. Lembro-me de minha avó me recriminar quando eu fazia besteira: “Menino, não faz arte! ”. Me pergunto o que ela diria se soubesse que eu hoje faço arte todos os dias.
Cresci cheio de esperança, ouvindo dizer que o Brasil era o país do futuro. Imaginava esse futuro cheio de obras de arte, teatros, salas de cinema, museus, escolas, parques, pessoas gentis e educadas, mas qual não é a minha decepção ao ver que o país do futuro virou o país do passado sem nem passar pelo presente.
Foto: @ISIDORAGAJIC
Edgar Duvivier é músico e escultor, assina muitas das estátuas vistas no Rio. Artista bem carioca, com muitos laços com a cidade!