Por que a sexualidade alheia ou o que está em volta dela incomoda tanto algumas pessoas? Assunto puxado pelo escândalo carioca, criado por Marcelo Crivella, que virou nacional, de a prefeitura do Rio mandar recolher, na Bienal do Livro (acabou nesse domingo 08/09), uma revista em quadrinhos onde dois homens se beijam. Depois de alguns constrangimentos, como a CEOP (bancado com nosso dinheiro) ir recolher o gibi, liminares pra lá e pra cá, venceu a liberdade, prevalecendo a palavra de Dias Toffoli, atendendo a um pedido da procuradora Rachel Dodge. Estamos numa época em que a censura mudou de nome, passando a ser chamada de “filtro”. Veja o que falam alguns psicanalistas cariocas, todos do mais alto conceito (não conseguimos nem uma opinião, digamos, a favor do prefeito):
Arnaldo Chuster: “Incomoda aquilo que não é espelho. Freud chamava isso de narcisismo das pequenas diferenças. Eu acrescento que ele fica pior quando vem de uma personalidade mesquinha. Crivella só acha correto aquilo que ele pensa, se é que podemos dizer que ele faz isso”.
Márcia Gomes: “Eu faço minhas as palavras do psicólogo e escritor Carlos Eduardo Leal: ‘Pornografia é tudo aquilo que excita o moralista!’ É esse o meu ponto de vista.”
Tati Torres: “Freud fala sobre o narcisismo das pequenas diferenças (1918): somos constituídos numa base narcísica – o que nos outros nos incomoda faz referência a algo que nos diz respeito diretamente, de forma especular, narcísica. Entre o amor e o ódio, a base é a mesma, amamos aquilo que desejamos ter e odiamos aquilo que desejamos e não temos. Tudo gira em torno do ter e ser. As mudanças culturais só têm algum grau de sustentabilidade se forem feitas a partir das mudanças pessoais”.