Como o Rio inteiro sabe, depois de o Túnel Acústico Rafael Mascarenhas ceder, na semana passada, foi aberto o Viaduto Graça Couto (que estava fechado há 15 anos), como “uma contingência”, informou a Prefeitura na data. Túnel liberado, mas o acesso continua aberto. Moradores argumentam que seria resolver um problema criando outro, já que a Gávea não comportaria essa sobrecarga no trânsito, ao mesmo tempo em que facilita o acesso de algumas pessoas, cortando caminho. Fato é que está virando praticamente uma guerra contra e a favor. Até a manhã desta quinta (23/05), a Cet-Rio, responsável pelo assunto, declara que “está fazendo estudos e análises, e que nada foi decidido”. Resolvemos ouvir dois pontos de vista: a diretora da Associação de amigos do Museu da Cidade, Adriana Bocaiuva, e a nutricionista Andrea Santa Rosa (nomes em ordem alfabética).
Adriana Bocayuva: “O debate acalorado sobre o fechamento do Elevado Graça Couto, travado por áudios ameaçadores via grupos de WhatsApp, diz mais sobre a civilidade — ou a falta dela — dos interlocutores do que propriamente sobre a base técnica que norteia essa decisão. A Estrada Lagoa-Barra foi projetada para ligar as duas regiões por uma via expressa incluindo túneis, na década de 70. Acontece que, na Av. Leonel Franca, por imposições apresentadas pela PUC, foi concluído, 10 anos depois, o Túnel Dois Irmãos. Nesse intervalo, foi erguida uma gambiarra para resolver um problema pontual, de forma provisória: um desvio do trânsito do Lagoa-Barra pela Rua Marquês de São Vicente, o Viaduto Graça Couto. No entanto, a Marquês de São Vicente é a unica via de acesso para os moradores do Alto Gávea, e já está totalmente saturada devido ao movimento da PUC e das 35 demais instituições de ensino do bairro. Quando a Av. Leonel Franca foi concluída (em 1982), o Alto Gávea, que já havia absorvido provisoriamente o fluxo da Lagoa-Barra, por toda a década de 80, teve que lutar até 1990 para que a gambiarra fosse finalmente fechada. A decisão não foi fruto de uma “canetada”, mas sim de estudos técnicos que embasam o conhecimento de qualquer morador da Gávea: a Marquês de São Vicente não tem capacidade para ser usada como alternativa desse fluxo de trânsito. Enquanto isso, o Alto Gávea continua contando apenas, como 1ª via de acesso, a Marquês, saturada com o trânsito local. Qualquer carioca civilizado e bem-informado tem capacidade de compreender que a decisão não é uma final de FlaFlu, e sim uma questão de direito urbanístico e de engenharia de trânsito. Temos confiança que poderemos contar com a sensibilidade do nosso prefeito, que já foi morador da Gávea, e que é também engenheiro”.
Andrea Santa Rosa: “Meu ponto de vista é que você dar uma volta enorme pra chegar ao mesmo lugar, isso não é econômico nem ecologicamente correto; pro meio ambiente, isso é um problema. Antigamente, o túnel não era largo como depois da obra e não tinha metrô, então engarrafava mesmo o Zuzu Angel. Agora, com a obra que foi feita esse acesso Lagoa-Barra ficou muito melhor, mais fluido. É muito difícil, ao meu ver, uma pessoa pegar a Marquês se ela não for usar o bairro. Acho que, pensando em pessoas que saem da Barra e vão trabalhar no Centro, nos estudantes que vão pra Marquês, é uma volta enorme. Pra você ter uma ideia, hoje eu levo 10 minutos pra chegar à escola, deixo meus filhos e desço a Marquês. Todos os bairros hoje são afetados com o tráfego. Não dá para comparar a Gávea de antigamente, mais pessoas, mais carros, mais congestionamento. Vai pegar a Niemeyer às 18h pra ver o trânsito, a demora pra cruzar, no mínimo, 40 minutos; tem trânsito em qualquer lugar. Eu acho que, para a população do Rio, é infinitamente melhor. Hoje, com o Waze, poucos vão pegar essa rota, apenas aqueles que realmente precisam entrar no bairro. A minha vida e de milhares de cariocas mudou com a abertura do acesso. Tem vários bairros que são de passagem, São Conrado, Botafogo, e não é por isso que nós fechamos nossos acessos! Posso garantir que melhorou a vida de muitas pessoas, eu vivo isso. Seria uma maravilha que São Conrado, por exemplo, deixasse de ser bairro de passagem, mas seria injusto com o resto da população. Consertar a ponte seria um investimento mínimo comparado aos ganhos; esse não seria o problema. Quem não gostaria de morar numa rua tranquila? Todos! Só que temos que pensar que moramos numa metrópole; os outros bairros se viram com o trânsito e não fecham suas ruas. Isso aqui não é cidade de interior! Que aconteça o que for melhor para todos!”.