Normalmente, desde que começamos a pensar, procuramos a lógica das coisas, dos acontecimentos, como se o mundo tivesse acontecido por régua e compasso. Contar passos, ver como ficam as batidas do coração quando sentimos algo mais forte fazem parte desse mundo ideal no qual existiriam apenas soma, subtração, multiplicação e divisão. Essa dicotomia nos persegue: a lógica matemática e a total falta de lógica da vida, sobretudo na dor. É desse material que Jéssika Menkel constrói “Cálculo Ilógico”, em cartaz na Laura Alvim.
O monólogo, cujo próprio fio é desvendar a dor pessoal, tem direção do premiadíssimo Daniel Herz, que imprime o tom que evidencia a qualidade do texto: há que construir um diálogo na própria pessoa, sem desespero, sem exagero e perplexidade. Esse equilíbrio faz com que se acompanhe o desenvolvimento da peça com interesse e que não se perca de vista o tom confessional, mas que se compreende o encenado ser uma metáfora do sentimento de perda.
Jéssika interpreta Ella (pode ser um nome ou apenas um pronome), que procura desvendar a morte do irmão. A arte da autoficção é um gênero que, na verdade, cria uma nova instância de ficção em que o aspecto documental é apenas um ponto de partida. E, para reforçar esse aspecto, o figurino e o cenário de Thanara Schonardie incorporam os elementos geométricos (três cubos que se misturam e transformam); a bicicleta, elemento do rito de passagem uma camisa do irmão morto.
É dessa força de racional/sentimento, de soma/subtração, de confissão/alteridade, que a trilha sonora original de Éric Camargo e a luz de Aurélio de Simoni contribuem para que se obtenha um resultado eficiente: um conjunto cheio de elementos diversos, cujo resultado é a multiplicação de elementos dramatúrgicos de qualidade.
Serviço:
Teatro Rogério Cardoso – Casa de Cultura Laura Alvim
Sextas e Sábados às 19 horas
Domingos às 18 horas