A crença do brasileiro no sobrenatural advém de nossa formação, sobretudo da matriz africana. Cantos, práticas, devoções, homenagens integram o cotidiano de boa parte de nosso povo, sem distinção de classe social ou local. Mas é nos negros que vivem nas periferias, sobretudo na vida sacrificada das mulheres/mães, que a fé é mais importante. É a história de três mulheres, todas chamadas Pérola, no seu cotidiano difícil, que trata a peça/musical “Reza”, em cartaz no Sesc Copacabana.
“Reza” reúne um elenco afinado e talentoso para contar a saga urbana, resgatando a tradição dos musicais brasileiros da década de 60. Wal Azzolini (Pérola), André Muato (Peão/Cão), Edmundo Vitor (Lavanda), Lorena Lima (Lavanda), Luíza Loroza (PérolaFunk), Leonardo Paixão (Dona Pérola Irina) e Samara Costa (Lavanda) cantam, dançam, interpretam sem maneirismo algum, de uma forma profunda que permite que a emoção seja dada pela capacidade de cantar, dançar e interpretar situações dramáticas, como morte, estupro.
A respeito do conceito da peça, a diretora Carmen Luz, que também assina a adaptação, nos revela que “Reza” é uma perspectiva em que as imagens, a fala e a escuta constituem rezas, ou seja, formas de relacionamento com a precariedade de nossa existência. Uma perspectiva aberta à instabilidade, ao diálogo e ao desejo permanente de comunicar outras epistemologias, diferentes sensibilidades, modos de ser, modos de estar e falar, modos de viver presentes na vida negra periférica.
No entanto é, na escolha da cor do figurino, que o maior significado nos é mostrado – tudo em azul de Ogum, o orixá Guerreiro, indicando que todos ali vivem na guerra constante, em batalhas nem sempre vencidas. O delicado acompanhamento da Orquestra dos Pretos Novos é um fundo delicado que transforma a dor dos personagens em poesia.
Serviço
Sesc Arena Copacabana
De quinta a domingo, às 19h.