O filme mais importante, candidato ao Oscar, este ano é “Roma”, uma bela metáfora sobre a situação da mulher, retratando o cotidiano de uma família mexicana, pela ação da empregada. “Fulaninha e Dona Coisa”, apesar de grandes diferenças – foi escrito na época e ambiente que o filme retrata -, é uma comédia, centra-se nos diálogos entre patroa e empregada. Ressalta o mesmo tempo: as dificuldades de as mulheres serem respeitadas em seus relacionamentos.
A reencenação, com Cláudia Ventura, Vilma Melo e Tiago Herz, transforma um texto datado (não foi feita nenhuma alteração/adaptação), com uma visão, em alguns momentos, elitista, em um comédia rasgada, recuperando um humor tipicamente carioca, com exageros de gestos e vozes, sem nuance alguma, como se via no teatro de revista. Esse foi o feito extraordinário do diretor Daniel Herz que, em vez de apostar em modernização ou nostalgia, escapou ao dar uma musculatura cômica de alta octonagem.
Outro elemento importante foram os figurinos, que vão além de caracterizar os personagens. Permitem mudanças de local social, de situações. “Como as mudanças de cena são muito rápidas, resolvemos fazer uma brincadeira a partir do conceito de transformação”, conta Clívia Cohen, responsável pelos figurinos, que se transformam em múltiplos elementos e adereços.
Mas são os atores, com destaque para Vilma, que transformam um texto que só reforçaria a mentalidade escravista do Brasil em um momento de se aplaudir a capacidade de os atores, sob uma direção criativa e inteligente, que nos mostram que a qualidade de um espetáculo está nessa mágica de vermos ao vivo o talento. Tiago e Cláudia também conseguem nos fazer rir, e muito, ainda que o que estejam mostrando seja de uma tristeza profunda: a situação patroa/empregada e o relacionamento homem/mulher. E transformar negativo em positivo, dor em alegria, só os grandes do teatro conseguem. Assim são Vilma, Cláudia, Tiago e Daniel.
Serviço:
Teatro Sesi, Av. Graça Aranha, 1 – Centro
Quintas, sextas e sábados às 19 horas
Domingos às 18 horas