A morte, por mais do que certa, ainda nos é incompreensível. Ainda mais quando a pessoa é daquele tipo “tinha tudo para ser feliz: bonita, inteligente, bem-casada, filhos lindos, talentosa, bem sucedida….” Mas o drama que vai na alma, a insegurança, a tristeza, ninguém pode imaginar. Esse é o fio condutor do monólogo “Pulso – a partir da vida e da obra de Sylvia Plath”, em cartaz no Teatro Poeira.
Elisa Valpatto está no palco, linda, suave, com um figurino perfeito para retratar a mulher americana da década de 50. Está só, com objetos que lembram uma casa. É a dona de casa que domina o seu espaço, mas é a atriz, com seu desempenho, que se torna a rainha do palco. Assim, de uma mulher fadada a ser de prendas domésticas, Elisa/Silvia realiza o salto.
Para a diretora Vanessa Bruno, a montagem não se pretende linear, mas fragmentada, com lógica própria. “A linguagem cênica contemporânea articula-se com literatura de Plath, para criar um trabalho intimista que quer provocar as questões do lugar social da mulher”, conta ela, que está, desde 2004, envolvida com o CPT, de Antunes Filho. Já Elisa explica que o espetáculo busca questionar, por meio do material criado, o próprio papel da artista mulher atualmente.
O drama, o desespero, a inadequação são apresentados pelo diálogo com as imagens projetadas, mas, sobretudo pelo tom que Elisa imprime à Silvia. Não é uma louca desvairada, não é uma ressentida. Sua poesia não consegue responder aos seus desejos e nem corresponder ao que sente. É apenas uma mulher, só que não consegue tomar sua vida a pulso, e a fina interpretação de Elisa é a resposta perfeita à personagem.
Serviço:
Teatro Poeira
Terças e quartas às 21 horas