Pode passar imperceptível, assim, para quem está de fora, mas, ao contrário do que muitos pensam ou dizem, a crise afetou o chamado mercado de luxo. Falando do Rio, um dos primeiros nomes associados a essa área é o de Patrícia Brandão, imersa nessa profissão desde 1998 – e sem queixas até datas recentes. Sim, a chegada de 2019 trouxe à Patricia, claramente, a ideia de mudar de profissão, e ela já está dando os primeiros passos nesse sentido. A relações-públicas nata fala do assunto sem sequer uma expressão aborrecida no rosto, mas com opinião firme. Muitas das grandes comemorações, tanto quanto dos empreendimentos cariocas, passaram pelas mãos de Patricia, o que mudou com o empobrecimento pelo qual a cidade passou depois de praticamente assaltada pelos políticos, vindo também daí esse castigo social, digamos assim, imposto a todo mundo. Essa mulher de espírito, leonina, decidida, bem casada (com o empresário Frederico Brandão), já agendou uma hora com um coaching para desenvolver sua nova carreira. São as mudanças que retratam a vida atual. Apesar de já dá para perceber um certo ânimo, pois o carioca vem colocando mais a cara na rua. Nessa entrevista, Patrícia diz o que pensa.
Sendo uma profissional do mais alto conceito, o que pode levar alguém como você a querer mudar de profissão?
Exatamente por isso, cheguei a um momento profissional em que, no Rio de Janeiro, não me sinto mais motivada. Na minha área, os eventos mais lucrativos atualmente são festas pagas ou camarotes carnavalescos – não tenho esse perfil. Sempre foquei meu trabalho, tanto como relações-públicas como consultora, para o mercado de luxo, fosse ele no segmento moda, arte, entretenimento, hotelaria, gastronomia. A cidade perdeu muito nesse mercado, nos últimos três anos. Preciso repensar, abrir ainda mais meu campo de atuação; aqui tenho usado pouco a minha expertise e, para falar a verdade, poucos projetos me motivam.
São quantos anos de trabalho como relações-públicas?
Abri minha empresa de consultoria de eventos em 1998. No início, era realmente mais focada em consultoria de moda e acabei percebendo um mercado promissor, organizando desfiles e inaugurações para as marcas. Sempre fui uma RP nata – minha agenda era VIP sem mesmo dar conta do real significado do termo. Tinha amigos na sociedade, pelas relações familiares, mas fazia amizade em todas as tribos: na escola, faculdade, turma da moda, da cultura, amigos da praia, das quadras de vôlei; enfim, gosto de gente. Quando trabalhei com Humberto Saade, aprendi uma lição muito importante: meu network valia ouro.
O que mais mudou nos últimos anos no Rio?
O Rio empobreceu em todos os sentidos. Foi saqueado pelo Governo, perdeu grande parte das sedes de empresas importantes do mercado de luxo. A maioria dos veículos de imprensa migrou para São Paulo, e a Lava Jato mostrou um lado muito sujo da sociedade carioca, acabou com a festa de emergentes corruptos, abriu uma fenda na sociedade tradicional, envergonhou muitos e fez a maioria dos cidadãos reverem seus valores. Aquele Rio chique, glamuroso, efervescente, eu não vejo mais, sem falar é claro, na violência urbana.
Cite grandes festas e eventos organizados por você, incomparáveis com os atuais.
Nossa! A lista é grande!
Qual o primeiro passo que você pretende dar nessa nova busca profissional?
Preciso, primeiro, fazer uma autoavaliação, olhar para minha trajetória, olhar o mercado e me perguntar o que me faria feliz. Vou fazer um coaching – será crucial ter a ajuda de um bom profissional para me aconselhar. Existem vários novos negócios em ascensão, profissões que nem existiam há 20 anos, preciso treinar meu olhar, me reinventar, preciso de algo novo que me encante.
Você acha que a Lava-Jato contribuiu de alguma maneira para um certo desânimo com tantas revelações e tantos cariocas envolvidos?
Absolutamente. Como mencionei antes, a moral do carioca foi parar na lama. Mesmo aqueles que não tinham nenhum envolvimento preferiram se encolher, se resguardar. A expressão low profile virou palavra de ordem.
Mesmo com novo presidente, novo governador, tanta coisa nova no Brasil e no Rio, vai haver um sopro de ânimo?
Acredito nas boas intenções e honestidade do Presidente Bolsonaro. Gostei da maioria de suas escolhas para equipe ministerial e torço para seu Governo dar certo, para o futuro dos meus filhos ser bem melhor.
Quero ter orgulho novamente de ser brasileira. Acho que só de termos nos livrado do PT já existe uma luz no fim do túnel, mas temos um longo caminho a percorrer. O brasileiro precisa mudar a mentalidade, o povo precisa de educação, saúde; o Rio está um caos, e, vamos combinar: dobradinha Witzel/Crivella me assusta.