Existem algumas pessoas cuja imagem se associa às suas cidades; no Rio, uma delas é Zazá Piereck, aquele jeito de sou-carioca-basta-olhar-pra-mim quase escrito na testa. Na mesma linha, segue o seu restaurante, Zazá Bistrô, em Ipanema, fazendo 20 anos, mostrando que ela é tão boa na cozinha quanto no salão, a tomar pelos tantos amigos. Dentre personagens bacanas que já passaram por ali, a que mais a emocionou foi a paquistanesa Malala Yousafzai, Prêmio Nobel da Paz em 2014, em julho deste ano. Recentemente, foi inaugurado o Zazá Café, no Shopping Leblon, seguindo na mesma linha – poderia fazer parte do circuito do charme, se é que vocês me entendem. Mas essa pequena entrevista é mais em cima da Zazá, voltada à minha, à sua, à nossa cidade e suas carioquices, pela voz dessa cinquentinha, de casamento único, com o também empresário Cello Macedo e mãe de um casal de filhos.
A vida vai bem?
Tenho que afirmar que sim, pois sou, creio, uma mulher a quem a vida muito tem dado mais do que mereço. Tenho alegria de viver, amo a vida e sou feliz com meu marido e meu casal de filhos. Sofri, como todos, com essa crise, mas continuo a lutar e a fazer um trabalho que me dá prazer e orgulho. Tenho mãe e pais vivos, irmãos e amigos excelentes. Para mim, a amizade é o bem da vida, e vivo muito com meus amigos.
As crises atingem as carioquices?
Sim, atingem
Quais?
Aleveza, a tolerância, a cordialidade.
O que de mais detestável tem visto no Rio, nos últimos tempos?
As certezas que as pessoas têm sobre tudo – da política aos costumes e, atualmente, há pouca tolerância aos que pensam diferente. Sinto que aos melhores lhes falta toda a convicção, enquanto os piores estão plenos de certeza apaixonada.
É um fenômeno carioca?
Os cariocas que aqui vivem e continuam apaixonados, apesar do que se faz ao Rio. Isso vem da familiaridade com essa topografia magnífica, com a pontualidade do sol, o burburinho das ruas.
Você é considerada por muitos um-dos-retratos-do-Rio. Faz sentido, por quê?
Me sinto lisonjeada com essa afirmação e talvez entenda essa representação através da busca pela leveza, pelo equlibrio do interno com o externo e por não me levar muito a sério.
Para alguém que trabalha muito, mas com um olhar aos prazeres, cabe algum temor com os últimos acontecimentos?
Penso que precisamos voltar a olhar para o mundo real, não embarcar na ficção, nem criar fantasias, nem continuar como fugitivos. Precisamos de um espelho que funcione como antídoto, de modo a voltarmos a nos apaixonar por nós mesmos, pela realidade concreta e humana, por mais defeituosa que seja. O grande avanço, o grande avanço de verdade será encontrar nós a nós mesmos. E descobrirmos a casa, a rua, o tempo, o amanhecer, o entardecer, o sol, as nuvens, o orgânico. A gente nunca vai ter a quantidade suficiente daquilo que não precisa para ser feliz – é uma busca que nos deixa exaustos e nos afasta da verdade. A felicidade e a verdade estão dentro; não, fora.
O que pode dizer ao novo governador?
Ao novo governador digo que nos surpreenda – positivamente. Um povo pode resistir a uma série inacreditável de fracassos sem arrefecer, mas não consegue aceitar que perdeu seu futuro, se isso lhe foi prometido.