Encerrando a série “Especial Eleições 2018”, a quatro dias da votação, a entrevista desta quarta-feira (03/10) é com o candidato Tarcísio Motta (Psol). Já foram publicadas as entrevistas de Eduardo Paes, Garotinho, Indio da Costa, Marcelo Trindade, Marcia Tiburi, Pedro Fernandes e Romário.
Por que se candidatar ao governo do Rio?
Para reduzir a desigualdade social. Com vontade política, é possível tirar o estado do buraco. Nossa campanha tem usado muito a frase “O Rio tem jeito” porque realmente acreditamos nisso. Mas isso só é possível combatendo a velha política, que favorece apenas os poderosos de sempre e retira direitos da população. Quero enfrentar, como já faço na Câmara do Rio, as máfias que quebraram o nosso estado.
A fazer aliança com algum dos seus concorrentes, qual seria? Por quê?
Alianças precisam ser programáticas, e não eleitoreiras. Nossa aliança hoje é com o PCB e os movimentos sociais, mas aceitaremos o apoio dos partidos do campo progressista no segundo turno, para derrotar a turma do Cabral, que ninguém aguenta mais.
Das tantas tragédias atuais na vida dos cariocas, qual a que mais o comove?
A pobreza extrema. O fato de haver pessoas vivendo em situação de rua retrata o descaso do estado com relação à vida das pessoas.
Qual a ordem de prioridade para o senhor: educação, saúde e segurança?
Esses três direitos são interligados. Não é possível priorizar um em vez do outro. A saída está na integração das políticas públicas. O estado do Rio precisa de um novo plano de desenvolvimento social.
O senhor colocaria um filho numa escola pública no Rio? Por quê?
Tenho dois filhos que estudam em escola pública, o Colégio Pedro II, do qual sou professor, com muito orgulho. É um exemplo de educação pública e gratuita de qualidade.
Quais as três primeiras providências se eleito?
Vamos implementar um plano emergencial de combate à desigualdade, criar um gabinete integrado de segurança pública e revisar o regime de recuperação fiscal. Tudo isso será planejado ainda este ano, no período de transição.
A filha do Eduardo Cunha é candidata, o filho do Sérgio Cabral é candidato, o filho do Jorge Picciani é candidato; todos presos – o que existe de tão atraente na política que não intimida esses jovens nem nessas circunstâncias?
Pergunta para o Eduardo Paes, que não só está coligado com o MDB, como faz palanque com esses candidatos e fez doações para suas campanhas. Todas essas candidaturas representam a continuidade do projeto de poder dos seus pais. Eles são os filhotes dos chefes da máfia que levou o estado do Rio pro buraco.
O que pretende deixar de mais importante ao fim de seu governo?
Uma revolução na educação, com profissionais valorizados, com unidades bem estruturadas e com evasão zero.
Que cidade citaria como exemplo? Por quê?
Há quase uma década, a cidade de Viena, capital da Áustria, tem se destacado nos rankings de qualidade de vida. A capital austríaca ostenta uma cena cultural vibrante, oferece assistência médica ampla, dispõe de um sistema de transporte público eficiente e tem custos moderados de habitação.
Qual o seu apreço ou desapreço com a prefeitura do Crivella?
A prefeitura do Crivella tem sido um desastre em todos os sentidos. No nível técnico, está tudo uma bagunça: cada secretaria funciona isoladamente, os órgãos públicos não dialogam, os servidores são desprestigiados, não há qualquer planejamento para orientar as políticas públicas e o prefeito é omisso. No nível político, o cenário é ainda pior: a cada dia, surge um novo escândalo sobre oferta de privilégios para determinadas igrejas, empresas e partidos que fazem parte da turma do Crivella. Essa talvez seja a pior prefeitura que o Rio já teve desde o fim da ditadura militar.
E a vida cultural como anda? Qual a última peça, o último filme, o último livro?
A vida cultural anda um pouco prejudicada pela correria da campanha e pela construção do programa de governo, que começou no início do ano. Mas, sempre que posso, incluo uma roda de samba na agenda. Consegui ir ao show do Paulinho da Viola na semana passada. Foi ótimo! A última peça que vi foi “Conselho de classe”; gostei tanto que vi duas vezes. O último filme foi “Auto de resistência”, um documentário fundamental para se entender o quanto a lógica da guerra que guia nossas polícias não gera segurança nem para a população, nem para os próprios policiais. O último livro que li foi “O homem que amava os cachorros”, de Leonardo Paduro.
Sabemos que a União retém quase a totalidade dos impostos arrecadados no Estado do Rio, deixando o governador, digamos, de pires na mão. Qual seria sua proposta para evitar essa romaria a Brasília, cada vez que mais dinheiro é necessário?
Vamos liderar um movimento nacional com os governadores de outros estados para rever o Pacto Federativo. Além de injusto, o modelo de distribuição dos impostos que vigora hoje é um obstáculo para o planejamento regional dos diferentes territórios do País. Precisamos de um novo modelo que torne as políticas púbicas mais eficientes e garanta os direitos da população. Além disso, é preciso deixar de ser capacho do governo federal e revisar o regime de recuperação fiscal para garantir a suspensão das privatizações, demissões e proibições de concurso. O que o governo Temer fez com o estado do Rio foi agiotagem, empurrando a dívida para o próximo governador, cobrando juros escandalosos. Vamos renegociar a dívida do estado do Rio junto à União, bem como as dívidas garantidas pela União que foram contraídas com o objetivo de financiar projetos vinculados à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016. Além de cobrar da União a compensação das perdas de receita tributária decorrentes da Lei Kandir.
numero:13 O que o senhor acha de políticos que mentem?
Um absurdo. A ética deveria ser condição mínima para qualquer mandato público.