Histórias de terror, alma-penada, assombração podem ser assustadoras, de se roer unhas e ficar coladas na cadeira. Podem também ser farsescas, divertidas; podem, também, ser metáforas dos fantasmas que nos apavoram em nossas vidas. Quando se consegue juntar tudo isso em um só texto, tem-se um espetáculo bem-sucedido. E “O Fantasma Autoral”, no Teatro Vanucci, na Gávea, nos proporciona risada e muita reflexão.
Ao contar o conflito de Miguel, um diretor, vivido por Bemvindo Sequeira, que precisa montar uma peça e sofre interferência do patrocinador Bruno (Alexandre Lino), expõe a maior ferida da cena teatral de hoje: os recursos para poder produzir. E aí o fantasma do autor Plinio Marcos surge para Pedro Garcia Neto complicar o que já é complicado. O cenário decadente é perfeito para amparar os diálogos de Maria Queiroz Azevedo e acentuar o absurdo das situações.
”Meu personagem é dono de uma empresa de joias. Ele está mais preocupado com os benefícios que a empresa terá do que com o espetáculo em si. Qualquer coincidência é pura verdade. Eu mesmo já passei por essa situação com peças que produzi e acabei desistindo do patrocínio para não comprometer minha integridade artística”, conta Alexandre. A excelente marcação do diretor Ernesto Piccolo permite que dois grandes atores – Bemvindo e Alexandre – possam desenvolver, na medida certa, a graça que se espera das situações absurdas que são o embate entre artista e patrocinador. O fantasma é o superego de Miguel/Bemvindo que o estimula a se libertar. E, nesse caminho entre ceder ao que me apavora mais, a opção acaba por ser a melhor: a arte, nossa libertadora.
Serviço:
Teatro Vanucci (Shopping da Gávea)
Quinta a Sábado às 21h00
Domingo às 20h00