Dando continuidade à série “Especial Eleições 2018”, a entrevista desta quinta-feira (27/09) é com Anthony Garotinho (PRP). Mesmo depois de ter sua candidatura impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta mesma quinta-feira, o político afirma que vai recorrer da decisão. A primeira foi com Eduardo Paes, como você pode ler aqui.
Por que se candidatar ao governo do Rio?
Quero fazer novamente o que fiz quando fui governador do Rio (1999-2002). Naquela ocasião, peguei um estado falido, renegociei a dívida com o governo federal, com os bancos privados e com mais de cinco mil fornecedores. Coloquei o estado de pé e saí com 88% de aprovação. Acho que é a hora de o Rio dar novamente a volta por cima.
A fazer aliança com algum dos seus concorrentes, qual seria? Por quê?
Neste momento, todo o foco é para ir para o segundo turno. Tenho certeza de que vou ganhar as eleições. Só sei que não aceitarei o apoio do Eduardo Paes, caso ele não vá para o segundo turno. Nem do PMDB. Isso é certo. Quero distância dessa quadrilha cujos líderes, Sérgio Cabral e Jorge Picciani, implantaram no estado “o jeito peemedebista de roubar”.
Das tantas tragédias atuais na vida dos cariocas, qual a que mais o comove?
A pobreza, a miséria e, fruto disso, o desprezo que algumas pessoas e políticos têm pelos pobres. Nas minhas caminhadas, vejo dezenas, centenas de moradores de rua abandonados. E vejo de novo gente passando fome. Famílias inteiras. Algumas pessoas reclamavam que eu usava muito dinheiro para programas sociais quando fui governador. No entanto, os 70 programas sociais do meu governo consumiam cerca de 2% do orçamento. Somente uma estação de metrô na Zona Sul custou isso. Se a miséria me comove, a insensibilidade me causa indignação.
Qual a ordem de prioridade pro senhor: educação, saúde e segurança?
As três são prioritárias. Eu incluiria ainda uma quarta: emprego. Num primeiro momento, no entanto, é necessário acertar as finanças do estado. Fiz isso em 1999. Naquela época, fiz a renegociação da dívida do estado, que estava falido depois de uma administração completamente ineficiente e temerária do ex-governador Marcello Alencar. Desta vez, vou renegociar o acordo de recuperação fiscal feito com a União. Da forma como ele foi feito por Pezão, ficou extremamente danoso para a população fluminense. Depois dessa etapa, poderemos pensar nas prioridades. Posso citar algumas medidas essenciais de um programa muito mais amplo. Na educação, vamos melhorar a qualidade do ensino e, por extensão, os índices do estado; vamos colocar ensino técnico e tecnológico nas escolas da rede no turno da noite; vamos tornar integral o ensino em boa quantidade de escolas. Na saúde, entre outras coisas, a ideia é racionalizar o sistema, com governo do estado, União e prefeituras fazendo cada qual a sua parte. Na segurança, vamos voltar com o GETAM para patrulhar as ruas, vamos criar os batalhões de defesa social, com serviços para a população. E, em relação à oferta de empregos, vamos reestruturar as cadeias produtivas do estado. Sei fazer porque já fiz. O morador do estado vai ter seu emprego de volta. E vai ter escola e saúde para seus filhos.
O senhor colocaria um filho numa escola pública no Rio? Por quê?
Vários deles estudaram em colégios públicos, inclusive num CIEP próximo à minha casa.
Quais as três primeiras providências se eleito?
Há uma medida que precede o que direi a seguir. É preciso fazer uma auditoria para saber qual é exatamente a situação do estado. O caos é tão grande que os números não são confiáveis. A partir daí, a primeira providência será certamente renegociar o acordo de recuperação fiscal. Também vou suspender todos os incentivos fiscais por 90 dias para avaliação. Não dá para ficar dando incentivo para termas e joalherias. Isso é um absurdo. Tem que recuperar a indústria naval, a indústria do petróleo, olhar com carinho para o interior. E vou retomar imediatamente os programas sociais, como o Cheque Cidadão, o Restaurante Popular, a Farmácia Popular.
A filha do Eduardo Cunha é candidata, o filho do Sérgio Cabral é candidato, o filho do Jorge Picciani é candidato; todos presos – o que existe de tão atraente na política que não intimida esses jovens nem nessas circunstâncias?
Veja: a questão não é se é filho ou não de político. A questão é o legado que esses pais deixam para esses filhos. Os três nomes que você citou fazem parte da maior quadrilha da história do Rio de Janeiro: o PMDB. Os seus filhos defendem esse legado. Tenho certeza de que meus filhos se orgulham da minha história política, mas por motivos diversos. Digo isso mesmo eles tendo sofrido na pele o que eu também sofri por ter enfrentado esse grupo criminoso. Minha família toda sofreu. Fiz a denúncia que levou grande parte dos corruptos, inclusive os três nomes que você citou, para a cadeia.
O que pretende deixar de mais importante ao fim de seu governo?
Um estado mais justo. Um estado recuperado financeiramente de novo. Repito: eu fiz (quando fui governador) e, com a experiência que adquiri ao longo da vida pública, estou preparado para fazer novamente.
Que cidade citaria como exemplo? Por quê?
Pasárgada, a cidade de Manuel Bandeira
Qual o seu apreço ou desapreço com a prefeitura do Crivella?
Volto a afirmar: o grande erro do Crivella como prefeito foi não ter denunciado, logo que entrou no Palácio da Cidade, a herança maldita que recebeu do Eduardo Paes. E olha que o Paes teve muito dinheiro disponível dos governos federais. Mesmo assim, conseguiu gastar mal e deixar a Prefeitura do Rio falida. O rombo olímpico ainda não foi totalmente contabilizado. A situação da Prefeitura do Rio deixada por Eduardo Paes é um caos financeiro.
E a vida cultural como anda? Qual a última peça, o último filme, o último livro?
Não tenho tido tempo de ir ao cinema, mas vi a série “A Casa de Papel” e gostei muito. Também não tenho encontrado tempo para ir ver uma peça teatral. Sinceramente, até gostaria. Até porque, sendo alguém que já fez teatro amador, gosto muito. Mas esse ritmo alucinante dos últimos meses de campanha não possibilitam. Também gosto muito de poesia. Estou relendo uma coleção dos melhores poemas de Pablo Nerura.
Sabemos que a União retém quase a totalidade dos impostos arrecadados no Estado do Rio, deixando o governador, digamos, de pires na mão. Qual seria sua proposta para evitar essa romaria a Brasília, cada vez que mais dinheiro é necessário?
De tudo aquilo que é arrecadado no País, a União retém cerca de 55,6 %; os estados ficam com apenas 25,1%. É necessário que o Congresso Nacional discuta um novo pacto federativo. Sem isso, a solução para depender menos da União é fomentar a atividade econômica no estado, estruturar as cadeias produtivas e diversificar o parque industrial. Só assim, poderemos aumentar a base de arrecadação e, consequentemente, as receitas.
numero:13 O que o senhor acha de políticos que mentem?
Já conheci muitos políticos que mentem e outros que falam a verdade. Não dá é para colocar todo mundo no mesmo saco. Existe uma onda de demonização da política. É preciso separar o joio do trigo. Mentir significa também esconder a verdade do povo. Esconder, por exemplo, o que fizeram com nosso estado nos últimos anos. E quem foi que fez. Lembra daquele slogan “somando forças”? Pois é. Eu sei, você sabe, a população sabe quem roubou. Mas algumas mentiras jogam essas verdades para debaixo do tapete. Mas não há de ser nada: o povo vai voltar a ser feliz. Esse é o verdadeiro slogan que o povo quer ver.