Tenho a sensação de viver num mundo onde tudo é possível, mas nem tudo é permitido quando é analisado pelos olhos dos demais seres deste planeta. Pode ser estranho, mas por que as pessoas estão buscando tanto alguma coisa e, na mesma proporção, não saem de sua zona de conforto para que aquilo que mais desejam aconteça? A resposta é simples: medo do nada! Esse nada que assombra e que congela!
Sempre tive uma percepção diferente do mundo. Desde criança, soube que eu era artista e que só a arte me interessava: a pintura, a moda, a música, a dança e tudo mais que me excita e me aguça a curiosidade até hoje. Acho que a curiosidade leva a vida para a criatividade e, se você é curioso e se permite, algo vai surgir. Mas essa é sempre a chave: permitir-se! Você se permite? Eu me permiti desde sempre. Não foi fácil, porém nunca dei importância a nenhum tipo de barreira ou dificuldade; sempre fui em busca do que acredito, e posso encontrar um caminho para a felicidade.
Fui criado com amor, mas com muita cobrança – cobranças essas que me tiravam o “artista” do sério! Criei meu próprio mecanismo de sobrevivência, com a consciência de que não vejo este mundo como a maioria das pessoas – “sem pretensão, só uma colocação”, que, aliada à minha capacidade de exercer a praticidade, me permite seguir. Vou citar alguns exemplos relativos ao que percebo estar atingindo a maioria das pessoas: relacionamentos!
Para que você entenda melhor… Não posso nem consigo sofrer por nada mais de dois dias, principalmente quando se trata do fim de um relacionamento. Como é chato ficar remoendo o sofrimento! Se o deixarmos partir, é muito mais fácil e sofremos menos. Não quero dizer que não me abalo nem fico triste; muito ao contrário, vivo e sinto tudo, mas não pode durar a eternidade. No terceiro dia, acordo, me olho no espelho, me pergunto o porquê daquela cara triste, e a resposta é a autoestima reativada. Pronto! A pessoa está de volta… rs rs rs.
Nesse momento, a curiosidade é fundamental para nos recuperarmos. Como mencionei antes, ela nos traz de volta o desejo de seguir em frente. O sentimento de que nada é por acaso (o que realmente não é) me faz entender que o que me interessa é viver o presente, aguardar o futuro com paciência e esquecer o que me fez mal no passado. Certamente, meu senso prático me ajuda a ter a capacidade de mudar na velocidade da luz, fato que geralmente surpreende a maioria dos meus amigos, que não conseguem compreender e me pedem conselhos.
Mas de que adiantam conselhos, pura teoria, vindo de uma experiência própria, se batem na cabeça de uma pessoa aparentemente aberta àquela ajuda, mas que, na realidade, não tem a coragem de agir diferente? Não adianta nada… rs rs rs. Só perdemos tempo; eu e eles! Eu sempre tento com a maior dedicação. Às vezes, funciona se você estiver realmente disposto a mudar algo. Amigos me pedem que eu escreva um livro sobre essas “técnicas”. Talvez esse artigo abra uma porta para isso, que eu não havia pensado antes.
É verdade que tenho amigos que não conseguem partir para o novo porque arrastam as correntes do passado para o futuro. Respondam-me, por favor: se não deu certo por tanto tempo no passado, vai funcionar no futuro? Não acredito em volta de relacionamento; nunca voltei para nenhum que tivesse acabado. Aliás, se deixei algo para trás, já foi! E isso vale para tudo na minha vida.
Tenho algumas amigas em crise porque se sentem sós e usadas pelos homens. Como não conseguem definir o que está errado, começam a ter a sensação de que uma relação com mulheres seria a solução… Pode ser, mas você tem que ter a consciência do que isso significa, ou não vai a lugar nenhum, e só vai continuar a reclamar da falta do homem.
Recentemente, uma íntima amiga foi lésbica por três dias. Isso mesmo, apenas três de lesbianismo, sem tocar na suposta futura namorada. Tudo por uma simples questão de busca e insegurança, atrelada à falta de praticidade… Pela necessidade de achar a felicidade, encontrou a amiga da amiga, que, aparentemente, estava interessada nela. E, por longos três dias, tive que aguentar todas as declarações de devaneios de desejos dela pela amiga da amiga! Na função de amigo gay e conselheiro, eu lhe disse que deveria ir até o fim para saber se era isso o que realmente ela buscava. É claro que não deu em nada! No quarto dia, ela foi a uma festa, onde encontraria a futura namorada e acabou saindo de lá com um gato amigo da amiga da amiga! Ahahahaha!… Daí, perguntei: por que você me fez perder tanto tempo, acompanhando a sua nova opção sexual, se não teve coragem de ir até o final? Ela não conseguiu me dar uma resposta convincente. Também não me sinto capaz de responder sobre o porquê desses desencontros… Será que falta o componente do interesse intelectual nas pessoas?
Para mim, a atração intelectual é fundamental! Adoro sexo, adoro o belo, mas de que adiantam horas de academia e muito Botox se, na hora do raciocínio, o cérebro não funciona? Sem contar o uso da palavra “amor” sem pensar nas consequências… Quantos “eu te amo” devem ser jogados ao vento todas as noites, sem medir as consequências? Se minha amiga estivesse ligada nessa onda, será que haveria futuro no relacionamento homossexual dela? Quem saberá?
Eu entendi o sentido daquele sentimento de uma diferente percepção sobre o mundo que eu tinha desde criança, quando fui pela primeira vez a Ibiza, em 1986. Eu era um rapaz de 23 anos e tive o privilégio de conhecer essa ilha no seu movimento cultural mais importante. Hoje continua bacana, mas não é a mesma coisa. Lo siento! Naquele momento, tudo o que eu sentia e percebia em relação ao meu posicionamento diante do mundo foi confirmado – o que eu era ou representava não interessava a ninguém mais do que a mim mesmo. Esse encontro comigo foi que me deu a certeza de que nada importa mais do que eu sinto, penso e quero para a minha vida. A partir do momento em que pisei naquela ilha onde encontrei a chave, vivi as experiências mais incríveis e descobertas sobre quem sou. E um detalhe importante: não preciso de drogas!
Todas essas experiências, certamente, seguem vivas na minha alma e se refletem na minha arte – minhas obras são fruto de tudo que vejo, vivo, sinto e amo! Para mim, o melhor para a alma é celebrar com amigos, com um bom vinho e uma boa conversa. Essa é a conexão! E parece curioso, mas, quando você termina um relacionamento e se permite abrir para o mundo, seu resgate pode ser surpreendentemente genial!
Essa pequena narrativa sobre um pouco da minha experiência de vida é para dizer que acho que tudo vale a pena ser vivido – sem preconceitos, sem julgamentos, sem blá-blá-blá! Viva! Se jogue, se permita! Sejamos nós mesmos! E com um pouco daquela pitada de praticidade… rs rs rs. Sejamos felizes!
Marzio Fiorini é artista plástico: acaba de expor seus trabalhos em Nova York e em Bruxelas – nos próximos dias inaugura mostra no Rio.