Na vida existe o jogo de que desempenhamos vários papéis. Somos desde que nascemos filhos, irmãos, netos, um bebê a ser cuidado. Dois atores no palco reproduzem a vida. Em cada situação somos um. Um gesto, um coração, um texto, uma emoção variam do lugar, da posição, do medo , da coragem. Somos um, mas somos vários. Esse é o eixo de “Ãrrã”, em cartaz no Espaço Furnas.
O premiadíssimo “Ãrrã” , o segundo episódio da trilogia Placas Tectônicas, composta por “Não nem nada” (2014), “Ãrrã” (2015) e “Chorume” (2017), articula-se como um jogo cênico onde dois atores-jogadores representam múltiplos personagens, em cenas que se sucedem alternando constantemente noções de tempo e espaço, onde a voz e o corpo dos atores é capaz de erguer e destruir universos na velocidade de fala, movendo continuamente a perspectiva do espectador.
“A mim interessa muito essa dimensão do teatro como um contrato que se faz instantaneamente. Está na frente de nossos olhos e são estruturas aparentes. Eu não preciso dizer e fazer com adereços. Ainda mais com intérpretes desse quilate em um texto como esse. Ou encontra atores que seguram isso, essas modulações emocionais, de vocais, corporais, ou não acontece”, diz Vinicius Calderoni, o autor, diretor e ator.
Luciana Paes e Vinicius Calderoni desempenham os diversos papéis em um espetáculo que mistura a repetição de palavras, som of de aplicativos, passagem de tempo e de local que , aparentemente, quebram a barreira de uma lógica narrativa. Os quadros se sucedem em ordem lógico e sem começo ou fim determinado. Homem e mulher, ator e atriz mostram que o ofício de viver, assim como o ofício do artista, é viver aquilo que se apresenta.
Serviço
Local: Espaço Furnas Cultural – Rua Real Grandeza, 219, Botafogo.
Dias e horários: Sábados e domingos, às 19h.
Ingressos: grátis, com distribuição de senhas na bilheteria, 1 hora antes.
Fotos: Lenise Pinheiro