“Em 1998, meu padrinho me ofereceu de presente uma viagem para um centro de meditação e yoga em Nova York. Eu tinha 18 anos e era muito ansioso e atormentado, me metia em confusão, consumia muito álcool, meu corpo era muito rígido e sentia intensas dores lombares. Sentia uma angústia profunda, um sentimento de não pertencimento, que tudo que era valorizado pela sociedade não me trazia alegria. Então aceitei o presente de meu tio, acreditando que iria conhecer NY. Mas passei apenas um dia na cidade e vinte dias neste Asharam (centro espiritual) no interior. Nesse lugar lindo, existiam diversos templos e tinha uma mulher mestra chamada Gurumayi, que se vestia toda de vermelho. Ela era a guru dessa linhagem de Siddha Yoga. Já estava lá por onze dias e ainda não tinha sentido nada especial, além de um profundo relaxamento. Queria loucamente ter um contato físico com a guru, mas ela parecia tão distante… Queria sentir o seu poder; parecia ser uma pessoa normal apesar do estranho brilho nos olhos. A ansiedade tomava conta de mim e criava uma barreira entre meu espírito e meu coração.
Angustiado, saí sozinho da palestra da guru e fui visitar um pequeno templo de vidro no meio da floresta, onde tinham estátuas de mestres antigos. Sentei num canto e fechei os olhos. Meus pensamentos eram tão profundos que ultrapassavam as paredes e janelas desse templo. Corria além dos verdes gramados floridos, além das árvores e montanhas. Mais rápido que os pássaros, cruzava o céu azul, atingido certeiramente o infinito cósmico. Quando saí da meditação, tomei consciência da frase que dançava em minha mente, e que seguiu comigo até aquela noite. Sei que essas palavras nunca mais abandonarão o meu espírito: ‘O guru habita o meu coração’.
Essa contemplação me ajudou a aquietar minha ansiedade e destruir a barreira entre a mim e a energia divina, abriu um portal para a minha essência. Foi o despertar da serpente adormecida, a Kundalini. No dia seguinte, me senti tranquilo e seguro, sabia que não precisava procurar ter o contato físico com a guru. A partir de então, ele estava sempre dentro de mim, circulando por cada célula do corpo físico em que meu espírito vive. No momento em que Swami Chidvilasananda (Gurumayi), guru encarnada, estava saindo do templo onde palestrava, em meio a milhares de pessoas, recebi um presente: uma amiga me apresentou a ela, que veio em minha direção. Quando escutei sua voz, senti segurança e sabedoria; no segundo seguinte, senti sua mão tocando o meu peito. Senti meu coração explodindo de amor, uma sensação tão maravilhosa que eu nunca achei que seria possível sentir. Descobri, nesse instante, que todos os valores sociais não poderiam me dar uma partícula dessa felicidade plena – nem dinheiro, mulher, sucesso ou uma cobertura em Ipanema poderiam me dar o que senti naquele instante.
Quando o corpo físico da guru se foi, suas palavras ficaram: ‘Eu já tinha visto você lá dentro. Você parece tão Indiano!’ Então minhas pernas começaram a tremer, no meu rosto rolavam lágrimas, gargalhava como uma criança. Amava todos à minha volta, até as pessoas que desconhecia, como se fossem o próprio ser iluminado. Via a divindade que existe em cada partícula do universo. Desde meu nascimento, aprendi que a felicidade é algo que deveria ser encontrado. Por outro lado, toda a estrutura de nossa sociedade me levava a procurar essa felicidade nos lugares errados, no mundo dos desejos, no universo dos sentidos. Essa busca era incessante, nunca estava satisfeito.
Os desejos nunca acabam – podemos procurar nas montanhas mais altas, nos prazeres mais saborosos, nos bens materiais mais caros, numa namorada linda ou em um trabalho de sucesso. Essa felicidade dura alguns instantes, talvez mais, porém rapidamente você já está buscando uma forma de saciar a sede interminável dos desejos. Não é preciso abandonar o mundo para desfrutar do êxtase interior; é só manter a consciência de que nada neste Planeta é mais importante do que entrar em contato com o amor que habita nossos corações. Através de práticas espirituais iogues, você se conecta com o seu ser interior e desfruta da felicidade plena“.
Antonio Tigre é professor de Iyengar, no YogaOne, na Gávea e dá curso no Espaço Rampa, dia 1ºde setembro,das 9:30 às 13:30, em parceria com sua mulher, a também professora Juliana Terra (Yoga Intuitiva). Inscrições pelo (21)967652515.