“A notícia da semana foi a de que o cantor Lulu Santos ‘saiu do armário’, via redes sociais, com direito a fotos e mensagens fofas trocadas com Clebson Teixeira, especialista em TI. A primeira ‘matéria’ que eu li tinha um título divertido: ‘Lulu Santos assume namoro com rapaz e choca total de zero pessoas’. Muita gente se perguntou se isso ainda era razão de matéria em portal de notícias – que não era possível, em pleno século XXI, isso ainda ser assunto de conversa. Bem, do meu ponto vista de militante (in) voluntário LGBT, pai de uma família homoafetiva – inter-racial – e com dois filhos, é preciso dizer que sim. Infelizmente, ainda é preciso espalhar a existência de um grupo vulnerável que muita gente só vê como aberração. “Em 2017, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia; o número representa uma vítima a cada 19 horas. O dado está em levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), que registrou o maior número de casos de morte relacionados à homofobia desde que o monitoramento anual começou a ser elaborado pela entidade, há 38 anos.
As informações são da Agência Brasil, o que significa o seguinte: entre o ‘beautiful people’ e antenados das grandes cidades, há certo bocejo em informações, mas, nas periferias, no interior e em redutos conservadores, continuamos vivendo uma caçada. Toda a minha vida – ainda que eu nunca sofresse uma ameaça física perigosa (um grupo de pit boys já tentou me apagar na escada Selarón, sem sucesso) – foi marcada por comentários pejorativos a meu respeito, tentando me diminuir como profissional ou mesmo como ser humano por ser gay. É um massacre diário na autoestima, que muita gente não consegue suportar. Tanto que a possibilidade de suicídio entre jovens e adolescentes gays é cinco vezes maior do que entre jovens heteros, segundo estudo da Universidade de Columbia.
E a palavra ‘veado’ é considerada um xingamento entre homens heteros até hoje. Tudo isso dói, massacra, diminui; o antídoto a isso é o conhecimento e as referências. Faltam-nos modelos e referências em quem nos inspirar. Esses modelos ajudam a construir uma autoestima em frangalhos, de quem passa a vida sendo violentado em atos e palavras por todo o resto, inclusive na família. Por isso, a notícia de Lulu é poderosa. É um cantor muito bem-sucedido, mentor de outros em um concurso de canto na TV, e tem uma base de fãs imensa. Além disso, prega a tolerância, esse artigo tão em falta hoje: ‘Consideramos justa toda a forma de amor’. E o amor, assim como a gentileza, não se iludam, são revolucionários. #loverevolution #kindnessrevolution”.
Gilberto Scofield Jr. é jornalista, atualmente chefe da Comunicação da Ancine (Agência Nacional do Cinema), militante (in) voluntário LGBT e também pai de uma família homoafetiva com dois filhos.