A palavra onda pode ter alguns significados: algo que quebra, que é bravo, que se surfa, que é legal. Porém, nos movimentos das marés, é que se conta o tempo. Em “As Ondas”, de Virginia Woolf, romance-poema escrito em 1931, a trama é a descrição da vidas de seis amigos, do nascer do sol até seu poente, formando as ondas que influem na vida das pessoas. A adaptação de Gabriel Miziara, “As Ondas ou Uma Autópsia”, no Teatro Poeira, aprofunda essa questão.
Miziara realiza um espetáculo no qual existe uma opção clara de trazer para o hoje o que Virginia falava no começo do século. Assim, o jogo de luz nas projeções e recursos visuais, inspirados na poética de Olafur Eliasson, equivale ao encontro/desencontro das palavras do texto original para mostrar a força da morte em oposição à vida.
Segundo Miziara, na encenação, o corpo de estudo é o romance, e cada incisão, o olhar de cada personagem sobre a morte, seja ela metafórica, seja real. “A peça é um corpo aberto, uma anatomia poética mapeada, que busca a expressão mais fiel da dimensão íntima dessas personagens em suas experiências com a morte”, completa Gabriel.
Se a trama original fala de um encontro de amigos durante um dia, para ver o movimento de vai e vem – o que chega mais perto, o que se afasta, tudo é coletivo. A visão de cada amigo é que forma o sentido. E dessa forma, criando um coletivo de criação de provocadores, André Guerreiro Lopes, Carolina Fabri, Cássio Pires, Elias Andreato, Fause Haten, Malú Bazan, Sônia Machado de Azevedo, Patrícia Leonardelli, a peça consegue impactar pela criatividade.
Serviço:
Teatro Poeira
De sexta a sábado, às 21h
Domingos às 19h