Ideal dos gregos, dos poetas do século XVIII, de nossos inconfidentes, Arcádia representa o lugar onde a força é da natureza, leis e princípios que regem e determinam todos os passos de nossa vida. A partir dessa dicotomia, surgem outras, também tão fortes: passado e presente, ordem e desordem, certeza e incerteza. É desse caldo que o premiadíssimo Tom Stoppard constrói sua obra-prima, “Arcádia”, em cartaz na Cia. do Teatro Contemporâneo.
Com seu talento, o diretor José Guilherme Vasconcelos consegue equilibrar uma peça que é construída em cima de aparente oposição, pois a ação ocorre em dois tempos: o que acontece no interior da Inglaterra no século XIX, em Sidley Park, uma casa de campo inglesa, em 1809/1812, e na atualidade. As atividades de dois intelectuais e as pessoas que vivem na casa nesses dois tempos mostram que ciência, amor, arte e filosofia, há muito, percorrem as pessoas.
Os figurinos de Luiza Valente e o cenário de Rostand de Albuquerque contribuem para caracterizar os aparentes conflitos expressos nos diálogos entre os personagens. O cenário tem, então, como base uma mesa com objetos das duas épocas, os quais convivem nos dois períodos, para evidenciar que não existem diferenças entre épocas. E a tartaruga que participa da peça simboliza a duração e permanência do tempo.
Contudo, é a coragem de José Guilherme em reunir o jovem, mas experimentado, elenco que dá vida e força a uma comédia que trata dos mais importantes temas da Ocidentalidade. Desde a contemporaneidade dos fractais e dos algoritmos, os dois atos revisitam os conflitos entre Classicismo e Romantismo. É esse caos do tempo, das ideias e dos conflitos que o diretor transforma numa acurada leitura dos dias de hoje.
Serviço:
Sede da Cia de Teatro Contemporâneo
Sábados às 21 h
Domingos às 20 h
Com degustaçãoo de vinho no intervalo